sexta-feira, 21 de novembro de 2008

personas

Venho reparando há algum tempo nos grupos de pessoas que freqüentam o lugar onde eu gosto de ir pra dançar. Eu sei, não é nada in ficar reparando nos outros no meio underground, mas é da minha natureza observar humanos. De preferência à distância, mas de tempos em tempos eu me misturo a eles, a la Pampa Safari.
Ciente de que estou em um momento meio bronco do meu já acanhado jeito de ser (à exceção de alguns rompantes de extroversão), de início pensei: pessoalzinho divertido, hein? Rock´n´roll no pau de puta, amor (?) livre, visual indie, camisetas engraçadinhas, cabelos bagunçados... Me senti em casa, dançando como desse vontade, podendo ir pra noite sem precisar passar mais do que 15 minutos me arrumando, usufruindo o open bar no meio da semana... tudo isso ao som de bandas que eu gosto e outras tantas que eu fico conhecendo ali.
Maravilha. Passadas algumas noites, bateu um repé: comecei a me sentir meio deslocada, e como eu já mencionei, não andava numa fase muito boa... pronto, comecei a achar que o problema era comigo, que talvez eu não fosse tão livre quanto eu imaginava, ou que não entendesse as diversões ensandecidas, que eu fosse uma chata, basicamente.
Dei um tempo, comecei a tomar antibiótico, duas semanas sem beber, quieta no meu canto. Essa semana decidi voltar ao meu estudo antropológico e pude confirmar a tese que eu começava a desenvolver. Passemos aos fatos e às constatações decorrentes:
1º momento da noite: encontro minha amiga, que chega com um grupo. Conheço alguns, nunca vi outros, amiga mesmo, só a primeira mencionada. Eis que nos abraçamos e subitamente um indivíduo de aproximadamente 1,90m, liderando um bando de mais dois ou três, inadvertidamente faz um montinho hard core sobre nós. Bati com a cabeça na parede, não quero nem pensar em como ficou meu vestido e entrei no lugar um tanto atordoada...
2º momento: o menino com quem a minha amiga vem ficando, que foi pra noite com ela, simplesmente se enrabichou com uma outra rapariga lá pelas tantas. A amiga, puta da cara, mas cheia de classe, elegantemente sentou em um sofá diante do casal e esperou até que o cidadão se apercebesse da presença dela. Enquanto isso, um outro da trupe insistia pra que eu me achegasse mais a ela, desse uns beijinhos, quem sabe? "Mas por quê não? Tu não acha ela bonita? Mas aqui pode tudo, qual o problema?". Tentei explicar pra pessoa que sim, eu só tenho amigas lindas, e que o ambiente democrático era irrelevante, já que caso eu quisesse beijar ou agarrar minhas amigas, não precisaria de um barzinho descolado pra me autorizar a fazer isso. Eu simplesmente não tava a fim. Mas pela cara do menino, era como se eu falasse javanês...
3º momento: já conformada com a diferença de freqüência entre mim e o environment, fiquei de espectadora. E aí vi gurias se esfregando pra chamar atenção, hormônios descontrol levando três pessoas que se agarravam ao chão, em um tombo espetacular, e outras tantas cenas que me deixaram pensativa... Já não pareciam mais pessoas livres e despreocupadas, não eram mais os adoráveis hedonistas de algumas semanas atrás. Porque não se via ali uma busca pelo prazer genuíno, zero de espontaneidade. Parecia que aquelas pessoas (que não eram a maioria dos freqüentadores, tô falando de um grupo restrito) estavam permanentemente preocupadas em protagonizar uma cena de impacto, em provocar, em transgredir. Mas transgredir o quê, mesmo? Quem, ali, dizia pra eles que alguma coisa era proibida? De onde viriam olhares de censura? Por que razão aquela meia dúzia de pessoas, que no seu dia-a-dia sabem conversar e se comportar de maneira tranqüila, quando botam os pés em determinado lugar parecem animais selvagens, recém libertados de um longo período de confinamento?
Volto ao caso do menino que pisou na bola com a minha amiga: gosta dela, tão juntos direto, mas ele não consegue decidir por si próprio que vale a pena deixar de ser porra-loca, abrir mão de pegar qualquer uma, aparentemente porque o personagem que ele incorporou não admite variações. E aí os seres livres do início do post se mostram escravos do estereótipo que eles adotaram.
Enfim, já divaguei bastante... minha conclusão não é novidade pra quem me conhece, e é uma idéia que meus amigos compartilham comigo: não adianta tentar evitar o contraditório. Cada um de nós é cheio de paradoxos, e é isso que faz as pessoas tão interessantes. O anseio em se tornar imprevisível só traz uma previsibilidade das mais aborrecidas. Beco sábado e missa no domingo? Pode! Sonic Youth e Wanessa Camargo no iPod? Por quê não? All Star e stilettos lado a lado na sapateira? Nada impede! Um urbanóide cibernético que adora uma cabana de praia isolada? Sem crise, colega!
Acho que no final das contas, a única regra é o bom caráter e uma dose suficiente de amor próprio.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Dom Quixote de la América?

No dia em que saiu o resultado das eleições nos Estados Unidos fiquei feliz de saber que um democrata com discurso eloqüente e aparentemente humilde e elegante havia sido eleito para governar o país e certamente se meter no governo do resto do mundo também. Aliás, a decisão do novo presidente dos EUA é tão comentada em todos os lugares, com uma cobertura de 24 horas da mídia e de real importância para o futuro do planeta que deveríamos todos os povos poder votar em democratas ou republicanos. Mas acredito que foi votado para o melhor. “Já estava na hora de mudar!”, pensei. Pelo menos parece que a maioria da população mundial e principalmente os veículos de comunicação concordam comigo.

Porém, minutos depois da divulgação do nome do novo presidente da América, houve dentro de minha própria residência um bombardeio: de e-mails, comentários nas rádios, a televisão só falava nisso, os jornais com capas e mais capas, as revistas perguntando aos pobres leitores brasileiros se este negro americano poderia salvar o mundo? Chegaram a me dizer que havia nascido um novo herói.
- Mas assim tão rápido? Ele nem fez nada ainda! - eu falava com meus botões.

Também nunca tinha visto os veículos de imprensa gaúcha mencionarem alguma nota sobre o Quênia e de repente, não mais do que de repente:
- É feriado no Quênia!, gritavam na TV.
Confesso que fiquei um pouco chocado com aquilo. Não com o fato do feriado em si, mas da importância que aquilo tinha para as pessoas que não foram capazes de me dizer que dia 2 de novembro tinha sido Corpus Christi.


Aquelas bombas foram estourando e estourando e eu me agarrando de nojo e de nojo que já não agüentava mais ouvir falar no tal do primeiro presidente negro dos Estados Unidos, do responsável pelo momento que ficará marcado na história do planeta Terra, do homem revolucionário que veio para mudar: o novo Abraham Lincoln - assassinado com um tiro na nuca durante uma peça de teatro -, o novo John Fitzgerald Kennedy - assassinado com um tiro no pescoço e outro na cabeça durante um desfile de carro na cidade de Dallas -, o novo Martin Luther King Jr. - assassinado baleado por um ex-presidiário -. Só espero que ele também não seja morto como todos esses marcos da história norte-americana. Se bem que se morrer agora ou no dia da sua posse, pelo menos para a sua imagem, pode ser bom, pois aí sim ele ficará mesmo marcado como um super-herói e um salvador do mundo. Claro, não vai nem correr o risco de cometer os erros que ninguém espera ou de não conseguir mudar nada que todos esperam. É mais ou menos como a história de Romeu e Julieta: o amor indiscutível e o relacionamento perfeito. Sim, eles nem chegaram a morar juntos e conviver de mais para cometerem erros e perceberem os problemas um do outro.

Não me lembro de ver reportagens assim tão emocionantes - uma edição perfeita, com os cortes certos, imagens de fotos tratadas da pessoa feliz ao lado da família, depoimentos apaixonados e, é claro, uma música de ritmo emocionante e mensagem condizente com o fato - desde a morte do Airton Senna. Aquelas mensagens que eles espremem, espremem até a gente chorar. O Senna pelo menos chegou no mundo e mostrou a que veio. Se tornou através do seu trabalho um grande esportista. Vamos ver o que será que será do próximo presidente americano.

Se tornará esta mais uma história de um falso-herói? O personagem mais célebre de Miguel de Cervantes é cria dos livros de cavalaria que o tornaram um cavaleiro andante graças aos milhares de livro sobre o assunto que lera e que o transformaram em um louco que achava poder salvar as pessoas e combater os moinhos de vento. Será Barack Hussein Obama um Dom Quixote de carne e osso, porém filho da mídia? Cervantes também conta na mesma história que o personagem Sancho Pança foi se aventurar junto a seu herói Quixote graças às promessas que este o fizera de que poderia governar uma ilha. Pois neste caso, volto a fazer uma analogia em forma de indagação: seremos nós realmente o retrato de um personagem do renascimento espanhol com almas desesperadas por melhorias nas condições de vida e por promessas? Será que nos tornamos todos Sancho Pança’s?

Tomara que possa, de fato, concretizar tudo o que prometeu e o que a população mundial espera dele. Mas quero ter meus pés no chão, fazer um esforço para me lembrar de que ele, pelo menos ainda, é um ser humano e que pode, sim, não salvar o planeta.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

romantismo x pragmatismo

Numa dessas minhas fases “leitora voraz”, que vão e vem de época em época, me deparei com um livro que me surpreendeu: O animal agonizante, do Philip Roth. Super recomendação de amigos, é um livrinho fininho, mas que me passou um bocado de sensações. É basicamente o relato de um tiozão, com seus sessenta anos e personalidade bem peculiar. Por sinal, me lembrou muito “A casa dos budas ditosos”, do João Ubaldo Ribeiro, mais erótico, mas também ótimo.

Mas enfim, tem inúmeras passagens do livro que eu queria comentar, diversas falas do tiozinho que eu queria palpitar sobre, mas vou deixar isso para outra hora, por enquanto vou para outro lado.

Ao tentar fazer a lista dos meus dez filmes preferidos, um dos primeiros que eu lembro é Closer, sempre. Nossa, eu sou a-l-u-c-i-n-a-d-a por este filme. Desde a cena inicial, da Natalie Portman com a trilha do Damien Rice, até a cena final, da Natalie Portman com a trilha do Damien Rice (nunca vi uma música tão bem empregada em um filme, por isso ficou ótima empregada duas vezes!), o filme TODO merece comentários. E assim como o livro do Philip Roth, eu teria inúmeras cenas para palpitar sobre por aqui, o que não farei agora também.

Na real eu falei dos dois para chegar onde eu queria: apesar de eu ter adorado os dois, eu percebi que tenho que tomar cuidado com esse tipo de filme ou livro por uma simples razão – que deve ser a razão pela qual eu gosto tanto deles: em relação a relacionamentos, eles são EXTREMAMENTE realistas, pragmáticos, objetivos. Sendo eu também demasiado assim, tenho que cuidar para não jogar o que me resta de romantismo pela janela.

No Closer, vemos que relacionamentos não são perfeitos, que a verdade nem sempre é a melhor saída, que muitas vezes só gostar não adianta, que sexo faz sim diferença (mas também não é tudo), que nem todos são o que parecem ser, mesmo após anos de convivência. Enfim, que não há receita, que a expressão “pessoa certa” é muito relativa e principalmente: que, na maioria das vezes, não gostamos da pessoa pelo que ela realmente é, mas pela personalidade que nós mesmos atribuímos a ela, pelo que decidimos que ela é. Essa eu acho uma verdade incontestável, acontece sempre, com todos.

O livro também vai por aí, mas em um sentido mais prático: o personagem é completamente contra o casamento, que acredita ser uma instituição fadada ao insucesso e dá inúmeros exemplos neste aspecto.

Portanto, eu, que já acredito em muito disso (apesar de não ser tão rigorosa em relação ao casamento), acabo aumentando o meu rol de teorias a respeito e diminuindo drasticamente as minhas concepções mais românticas. É claro que quando eu estou apaixonadaça eu esqueço tudo isso e acho que vai ser para sempre, que ultrapassaremos todas as barreiras e blábláblá, mas no meu estado normal, cada vez diminui meu romantismo - e isso não é bom. Porque, no fundo, eu admiro muito os românticos e sonhadores...

Acho que to precisando alugar Titanic e dar uma lida em Polyana...

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Textinho a publicar (ou não) no jornalzinho da família...

O Ché me pediu para escrever alguma coisa para o jornalzinho da família. Da outra vez a Lelena já tinha pedido, o que me faz crer que o Tio Quincas, por algum motivo desconhecido, colocou na cabeça dos filhos que eu escrevo bem. Anyway, bem ou mal, agora cá estou (qualquer reclamação, favor direcionar-se à mesa da Tia Arabela).

Eu adoro as festas da família. Não estou aqui babando ovo não, eu realmente gosto muito. De repente porque sou fruto dessa família por todos os lados, para qualquer direção da minha árvore geneológica que se vá, se chega na Vó Quinota. Ou então porque desde que eu me conheço por gente meus pais são separados e acaba sendo na festa da família o único momento em que estão as duas famílias, de pai e de mãe, reunidas. Mas na verdade, na realidade mesmo, eu acho que esses motivos até ajudam, mas posso listar dezenas de outros que me fazem sofrer se tenho que faltar uma festa.

Esse ano, por exemplo, não poderei comparecer. Motivos mais fortes me levam ao litoral catarinense, fazer o quê... mas juro que fico muito chateada de perder, porque só tem uma vez por ano. Perdeu? Só ano que vem. Eu lembro que quando eu estava na Austrália me enviaram o jornalzinho da festa: eu chorei lendo. Provavelmente não tinha nenhuma notícia triste, nem uma única singela nota mais emocionante, mas eu chorei lendo. E é lembrando disso que eu consigo elencar os motivos que me fazem gostar tanto da festa.

Reencontrar todo mundo, muitos dos quais acabamos vendo só ali mesmo; ler e dar risadas com os jornaizinhos e com eles se inteirar dos acontecimentos do último ano (quem casou, se formou, viajou,...); os doces das tias, sempre um espetáculo; a cervejinha gelada e a animação progressiva (meu pai diz que eu tenho que me cuidar nesse sentido, é muita genética para uma pessoa só!); ver a minha família reunida, o que acaba sendo difícil, na correria do dia a dia; encontrar o pessoal do Tio Ruy, pois acaba sendo só na Festa da Família (ou por causa dela) o meu contato com eles; a mesma coisa com a Tia Lalá e companhia, que eu até vejo com mais frequência, mas não com a necessária; a Tia Bira querida, sempre presente; aquele batalhão da família da Tia Wanda, uma alegria só, que anima a festa; rir com os filhos da Tia Ara, que eu já considero tios de verdade, como se fossem irmãos dos meus pais; ouvir o discurso do Ché (sempre tem, né?); descobrir o que a comenda do ano aprontou de novidade; a eleição da nova comenda, sempre um show de risadas; descobrir o quanto eu cresci ("como tu cresceu") - e agora que eu já passei dessa fase, ver como as crianças crescem rápido (desespero!).

Enfim, por essas e por outras que a Festa da Família significa muito para mim. Eu acho que tem que ter todo ano sim e que a gente não pode deixar morrer. Porque no fim, a família é tudo que nós temos e o sentimento de união que a festa passa deve permanecer sempre. Foi pouca gente em um ano específico? Paciência, quem foi se divertiu. Mas que se faça sempre.

Até porque, no fim das contas, eu não posso viver sem os discursos do Ché...

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

OBAMA FOR CHANGE



Impressionante o carisma. A habilidade em trazer com a democracia um sinal de esperança, em fazer as pessoas se engajarem pela causa.

"I ask you to believe..."

I believe, Obama. I believe.

...pensamentos, teorias e devaneios...