segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Coisas de fim de ano...


Eu tenho que confessar que não entendo muito as pessoas que acham fim de ano melancólico. Para mim, desde criança, essa é uma época deliciosa. Naqueles idos eu certamente devia creditar a minha adoração aos presentes, mas agora (já que estes diminuem na mesma proporção com que a idade aumenta) eu percebo que mil coisas me fazem feliz a essa altura do ano: adoro a sensação de que, com o ano que chega, vem junto uma nova chance de melhorar o que está ruim, de se fazer o que não se fez. Pode ser ilusório, mas amo fazer mil planos para o ano que está chegando e acreditar mesmo que eu vou cumpri-los. Gosto de ficar relembrando o que aconteceu no ano que passou, as coisas boas, as novidades, os ganhos e as perdas. Perceber o quanto eu vivi e o quanto eu mudei neste intervalo de 365 dias. Mas, acima de tudo, tenho verdadeira paixão pelas confraternizações.

É festinha da empresa, da faculdade, dos amigos, da família. É tão raro conseguir juntar todo mundo nesses tempos corridos, mas no Natal todo mundo dá um jeito! Para mim não tem nada melhor do que a familiarada reunida, aquela bagunça e falação geral; poucas coisas são mais divertidas do que as festas e confraternizações de fim de ano do escritório, quando a gente passa a conhecer um outro lado daqueles com quem convivemos todo dia. Por fim, o fim de ano da EQUIPE, sempre uma delícia. Pessoas com quem convivo o ano inteiro, com quem falo todo dia, que me conhecem realmente, me divertem, sofrem junto, para quem peço ajuda, conto tudo, sou eu mesma. A família que eu escolhi, uma das coisas que eu mais me orgulho de ter conquistado/construído na minha vida.

Esse ano, porém, a festinha equipística teve um quê diferente. Somavam-se em mim dois sentimentos distintos: a óbvia alegria de estar ali e a incômoda sensação de não saber como vai ser no ano que vem. Pois é, 2010 promete ser um ano de mudanças, algumas já confirmadas, outras com grandes possibilidades de ocorrer e mudança sempre traz medo – apesar de também trazer crescimento. Mas não adianta: me dá um aperto enorme no coração pensar que ano que vem o desfalque pode ser grande na nossa já tradicional festa de fim de ano, coisa que naquele fim da adolescência, quando começou, parecia que seria para sempre... assim como parecia ser para sempre a presença de cada um da EQUIPE no meu dia a dia.

Eu sei que as mudanças vão ser para melhor, que com tudo se acostuma e principalmente: que não tem distância que separe o que anos de amizade e muita coisa em comum reuniu. Mas que o pensamento de que não terei toda a EQUIPE para compartilhar uma quantidade considerável de álcool enquanto tomo banho de piscina de noite e falo merda usando trajes sumários deixa esse meu fim de ano um pouquinho mais melancólico, ah isso deixa. E assim talvez eu passo a entender aquelas pessoas que eu citei lá no início. De repente entendê-las-ei ainda melhor ano que vem – ou, ao contrário, começo a desacreditá-las de vez.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Cidade Fantasma

Numa semana muito chuvosa em Porto Alegre, num curto período de tempo em que estava apenas nublado, vinha eu andava de ônibus pela avenida Don Pedro II na direção da Avenida Assis Brasil até o Teatro do CIEE que fica na própria Dom Pedro. O ônibus vinha balançando comigo sentado no banco do corredor e um monte de gente a minha volta. Pessoas com as axila bem expostas, com os braços agarrados nas barras de ferro pintadas de amarelo. E o ônibus balançando. Eu tinha certeza que cada vez entravam mais pessoas, enquanto pouquíssimas saiam. E cada vez mais gente passando e balançando e sua região pélvica perto da minha boca, nariz e olhos.

Quando percebi que entramos na rua que eu queria, mesmo não sendo a parada mais próxima do meu destino, sabia que estava perto. Me levantei com uma mistura de coragem, nojo, raiva e outros sentimentos parecidos com esses, puxei a cordinha vermelha que eu fiquei com medo de arrancar caso o motorista desse uma freada justo no momento em que eu estava com a mão enganchada nela. Fui meio com pressa me roçando nas pessoas o mais rápido que podia, mas ao mesmo tempo tinha uma certa cautela com medo de levar um safanão. Cheguei perto da porta dos fundos, o motorista freou, abriu a porta e logo que desci arrancou rapidamente.

Eu, que portava minha pasta cinza claro e um livro pesado de 30cm por 30cm, tropecei no cordão da calçada e, de muito mal humor, dei de cara com um prédio enorme, cinza escuro, sombrio, com janelas de ferro e os vidros foscos na sua maioria quebrados, como se vândalos tivessem apedrejado todas as aberturas no intuito de acertar os espaços internos ou as pessoas que lá estavam. Outra alternativa possível seria que uma guerra civil tivesse acontecido ali com direito a tiroteios e tudo mais que possa envolver uma guerra desse tipo.

Fiquei pensando o que é que poderia ter acontecido naquele elefante gigante que estava perdido no meio de uma zona cheia de novos prédios comerciais de milhares e milhões de reais como se fosse invisível. Como pode ser que eu nunca o tivesse percebido, perguntava a mim mesmo. Onde já se viu uma coisa de cimento cor de grafite, toda manchada de mofo, de manchas que de certo escorriam do ferro enferrujado das janelas podres? O que aquilo estava fazendo ali? Totalmente deslocado. Cheguei a pensar em uma instalação da Bienal do Mercosul, em que tudo é arte. Certa vez, me lembro de ter visto, nesse caso num museu, uma sala toda de tijolos e com cimento no chão. Em construção. O artista dizia que aquela sala era com um caderno que tinha que ser completado com o conteúdo. Vá que o tal elefante gigante mau cheiroso fosse uma obra desse mesmo autor, cujo nome não vale ser lembrado.

Depois do meu compromisso no teatro, decidi dedicar algumas horas para investigar o que poderia ser aquilo. A construção ocupava toda a quadra. Peguei a rua lateral, e a aparência só piorava. Ou, pensando bem, melhorava porque o muro lateral estava todo pichado, o que, de certa forma, tirava um pouco a atenção para o mausoléu que ficava dentro do muro. Visto que pichação tem em qualquer lugar na cidade, essas até traziam um ar de normalidade para o prédio. Segui até a rua de trás, e a fachada de entrada do edifício era do mesmo cinza grafite manchado e com as janelas quebradas. A diferença é que não tinha muro na volta, e o horror ficava cara a cara com o observador. A entrada principal estava trancada com uma grade de alumínio com um fundo branco que formavam uma porta grande com abertura no meio. Ao lado, uma espécie de janela grade de ferro pintada de verde e já toda descascada, e mais adiante havia uma outra entrada com grade de correr, de cima para baixo com um rolo, onde se enrola a grade de ferro com pequenos buracos ovais, na parte de fora expondo suas quebraduras e ferrugens. Algumas janelas estavam abertas, mas não se percebia sinal algum de qualquer ser humano vivo que pudesse estar circulando ali naquele momento ou, sequer, que tivesse circulado nos últimos cinco anos.

Graças à natureza, algumas árvores davam uma leve disfarçada na fachada, mesmo tirando a luz e dando mais sobriedade. Em cima da porta principal estava o nome em preto com letras gordas escrito Corlac, a antiga companhia de laticínios que pertence ao Estado do Rio Grande do Sul. É um lugar tão abandonado que cheguei a ficar com medo. Com todas as ações corruptas que se vem e ouvem todos os dias, achei que o lugar era perfeito para se planejar um belo crime e esconder provas de qualquer coisa. A porta estava trancada. Bati, gritei baixinho e, convenhamos que graças aos Deuses ninguém atendeu. Teria tomado um susto mesmo se a pessoa mais bela e educada do mundo tivesse me aberto a porta. Eu teria certeza que se trataria de um fantasma. Mas, aparentemente, os únicos ruídos que vinham lá de dentro eram de um lento desabamento do concreto e dos ratos circulando por cima das poças de água acumuladas das fortes chuvas da semana.

Fiquei preocupado com esse buraco negro que existia na cidade. Era como se eu tivesse, ao saltar do ônibus, atravessado um portal mágico para uma outra dimensão que, de repente, pairava gigante diante dos meus olhos. Descobri que existem em Porto Alegre mais de 100 portais mágicos como este espalhados pela cidade, e todos do governo do Estado do Rio Grande do Sul. Há alguns outros também abandonados, porém privados, mas que também dizem respeito ao governos, levando em consideração que ficam em zonas centrais da cidade onde pessoas circulam e acabam, em função disso, sendo obrigadas e conviver com a leptospirose, a dengue, a gripe A ou simplesmente com o cheiro fétido que circula por zonas como a Voluntários da Pátria, a Duque de Caxias, o viaduto da Farrapos que emenda no túnel, onde prédios abandonados ou repartições públicas esquecidas pelo governo se encontram.

Porto Alegre é de fato uma cidade assustadora. De um lado vemos tanta coisa nova em construção, alguns poucos prédios tradicionais da cidade sendo reformados e quando eu achava que a cidade estava se modernizando, PA! Me dou conta de que os fantasmas estão escondidos assombrando as pessoas que circulam distraídas pelas ruas preocupadas com as superlotações dos ônibus ou pensando em fazer arte.

O mais engraçado ou trágico é que muitos desses edifícios abandonados são usados ou para depósito de móveis que não tem mais uso, como computadores velhos, ar condicionados estragados e tralhas em geral, ou socam uns grupos e órgãos de artes cênicas lá dentro pra eles não reclamaram mais.

Eu gostaria de chamar os Ghostbusters, sejam eles cidadão conscientes, políticos engajados ou empresários que ocupem lugares como esses e passem um aspirador gigante sobre as construções que inundam de lixo e medo essa principal cidade do povo que se orgulha tanto de ser avançado em relação aos outros. Esses que assim falam, certamente ainda não se depararam com os fantasmas que estão circulando por toda a parte. Fffrrrrrrr. Um calafrio.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Pipoca

Depois de um período de marasmo cinematográfico na cidade, estrearam há pouco vários filmes que eu andava há tempos querendo assistir. Em vista disso, me propus a ir ao cinema todos os dias desta semana, e embora seja recém terça feira, já me coçaram os dedinhos pra escrever por aqui.
Ontem o eleito foi Julie & Julia. Com a sinopse falando em comida, Cordon Bleu, blog e Meryl Streep, evidente que eu criei grandes expectativas. Mas confesso que no pós-filme cheguei a comentar com alguém que a minha porção cozinheira tinha gostado, enquanto que a porção restante tinha dormido do início ao fim... Meus olhos brilharam nas cenas que envolviam assassinatos de lagostas, suflês de alturas vertiginosas, feiras e boulangeries, mas as historinhas que justificavam toda a comilança não despertaram em mim qualquer emoção além do tédio. Saí do cinema creditando esse desdém ao meu coração de pedra, incapaz de se emocionar com historinhas bonitinhas e mimimí, então nem dei bola, já sei que sou assim mesmo...
Porém, ainda que eu tenha achado a Julia Child muito mala, soltando uns guinchos estridentes a todo momento, e a Julie Powell meio bobinha, com seus constantes meltdowns, as idéias por trás das respectivas histórias me agrada bastante. A primeira era esposa de um diplomata, foi parar na França por conta do trabalho do marido e lá resolveu estudar culinária pra ocupar o tempo, já que o que mais amava fazer na vida era comer. Virou um fenômeno de popularidade e apresentou aos americanos a arte da cozinha francesa. A segunda era uma burocrata, frustrada com o emprego e o apê-ovo no Queens, que decidiu fazer todas as receitas do livro da JuliA ao longo de um ano, postando tudo em um blog. Buscava um novo sentido pra vida, e a empreitada acabou dando muito certo. Por que eu não gostei do filme mesmo? No fundo, acho que impliquei com as duas por ela serem extremamente americanas, uma se recusando a falar francês na França (ou falando DAQUELE jeito...), e a outra um tanto histérica e manteiga derretida (o que ela tomaria como um elogio, garanto).
Hoje é que eu fui me dar conta, por contraste, do real motivo para eu ter torcido o nariz pras "Juliettes": sou muito mais Coco. Pois é, fui ver Coco avant Chanel e cheguei a essa conclusão. A francesinha meio antipática, que não fazia a menor questão de agradar - e ainda assim agradava, segue agradando -, sel made woman, que jamais soube se imaginar como "a esposa de alguém", etc., etc., fez muito mais a minha cabeça. Que os atributos citados não passem uma idéia equivocada: Chanel não foi uma workaholic fria, calculista, desprovida de sentimentos. A mulher amou demais, foi igualmente amada, sofria com o abandono do pai, teve medo de meter os peitos e ir ganhar a vida fazendo chapéus em Paris, tudo isso... E mais, ela sempre soube que não poderia se dar ao luxo de aguardar a aparição de um marido rico que a sustentasse - sem contar que definitivamente não tinha o temperamento que se esperava de uma boa esposa naquela época...
O filme não é nenhuma obra-prima, mas permite que se compreenda bem essa aura de austeridade e mito que cerca a dama que alçou pérolas, tailleurs, bolsas de matelassê com alças de corrente douradas e a cor preta ao status de ícones de estilo atemporais.
Eu sei que é muito fácil aplaudir de pé uma personagem que incorpora com tanta elegância aqueles defeitos mais arraigados em mim mesma. Por outro lado, surge um certo mal estar quando se percebe que muitas vezes, esse tipo de personalidade pode redundar em uma solidão tremenda. Por isso, farei algumas concessões: quando crescer, quero ser uma combinação dessas mulheres todas - cozinheira de mão cheia, e independente, sim, mas com espaço pro riso, pro amor e pra uma que outra frivolidade na vida. E sempre com pérolas em volta do pescoço (bossa que Julia, Julie, eu e milhões de mulheres pelo mundo herdamos de Mademoiselle Chanel).

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

No teu deserto

Manias.Parece que, ao mesmo tempo em que vamos somando anos à idade, vamos juntando manias ao rol das que já possuimos. Minhas amigas sabem do meu pavor a copo cheio, por exemplo. Ele indiscutivelmente foi se agravando ao longo dos anos, a ponto de hoje em dia correr sério risco físico qualquer um que encha meu copo até a borda.A mania de sublinhar toda e qualquer frase interessante do livro que eu estou lendo é outra que foi se aprofundando, a ponto de atualmente eu me chatear quando estou lendo livro emprestado - que eu não posso riscar - ou quando não tenho uma caneta por perto. O bom dessa última mania é que, ao passar os olhos novamente pelos livros lidos, pesco imediatamente as coisas que me chamaram atenção, às vezes me lembrando exatamente a fase da vida que eu vivia na época da leitura, como me sentia, ou o porquê de eu ter gostado daquilo que sublinhei.

Em uma dessas vezes em que dei uma segunda passada de olhos por livros já lidos, me deparei com frases que novamente me tocaram, de um livro não menos sensacional. "No teu deserto", do português Miguel Sousa Tavares é sensível, delicado, pungente.Em pouco mais de 100 folhas o autor conseguiu contar uma história e demonstrar um sentimento profundo. Fica a dica e ficam, junto, algumas das frases do livro:

"Mesmo a desordem necessita de uma ordem que lhe dê um sentido para que não seja apenas leviandade".

"A alturas em que a beleza é tão devastadora que magoa".

"A terra pertence ao dono, mas a paisagem pertence a quem a sabe olhar".

"A coisa mais bonita e mais difícil de partilhar entre duas pessoas é o silêncio".

terça-feira, 24 de novembro de 2009

...



"A saudade é a nossa alma dizendo para onde ela quer voltar".

Rubem Alves

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Chato isso...

“Politicamente correto”. Ô coisa que me irrita! O Obama mata uma mosca em rede nacional e é crucificado pelos ambientalistas mundo afora, o Maurício de Souza faz um personagem dar a entender que é gay e chovem críticas em cima dele, o Caetano fala mal do Lula e vira um bafafá, o Santana escreve dizendo o quanto preza seu cigarrinho diário e quinhentos leitores reclamam que um cronista lido como ele não pode prestar esse tipo de influência, a Fernanda Lima falou que de vez em quando, no auge da irritação, tem vontade de chacoalhar os filhos e já foi taxada de péssima mãe. Saco.

Será que as pessoas realmente acham mais legal que todo mundo se travista de atitudes consideradas louváveis, quando todo ser humano, na verdade, é indefinível, impreciso e imperfeito? Quanta hipocrisia! Peço desculpas se eu como carne de boi sem nem me preocupar com o pobre do bichinho ou se às vezes eu demoro no banho, prezando mais pelo meu relaxamento depois de um dia estressante do que pela economia de água. Acontece, como diria uma grande amiga. Não é que eu concorde com a roupitcha que a tal da Geisy foi para a faculdade, por exemplo, mas daí a achincalhar a pobre coitada tem uma razoável distância. E daí a encher páginas de jornais durante uma semana sobre o assunto, então...quanta falta do que dizer! Que chatice gigantesca esses julgamentos morais em torno de questões, digamos assim, menores. Que questionem a política então e não o erro de português que a pobre da Sasha – de 11 anos - cometeu. Nem todo aquele que fuma maconha é um drogado-vagabundo, nem todo que trai é filho da puta, nem toda loira é burra, nem toda “peteca” é fútil. Muito embora muitos desses efetivamente o sejam.

Dito isso tudo: que não venham me falar da minha foto aí de cima, nada por aqui é politicamente correto. Muito pelo contrário.

Ps: parábens para o Purfa, quase 4 anos e lindo de cara nova!

Cara Nova

Para os nossos assíduos leitores, para os nossos esporádicos leitores, para os velhos, novos e para nós mesmos, nosso blog está e cara nova! E, como não poderia deixar de ser, revelando uma face de cada um destes aqui que contribuem para o conteúdo do site. Como diz a Luiza, dá até mais vontade de escrever.
Pois bem, vamos à luta, atrás de mais pensamentos, teorias e devaneios que nos façam refletir, que nos divirtam, que nos instiguem, que nos apaixonem. As vezes, o melhor desse exercício da escrita no blog é ficarmos mais atentos para os diversos acontecimentos das nossas rotinas, o que, deliciosamente, nos tira da rotina.
Pois bem, aqui estamos nos aproximando do quarto ano de PURFA e, graças aos Deuses, incansáveis.
Aproveitem, porque nós já o fazemos!

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

1, 2, testando...

Fui assaltada. Roubaram minha senha do e-mail que eu usava pra acessar o blog e o orkut. Só não foi um latrocínio virtual porque eu mantive e-mail pessoal, twitter e facebook (ainda que este eu quase não use). Assim, como eu andei sem muita vontade de me expressar, passei uns vários dias em silêncio, com surtos eventuais de 140 caracteres.
Agora resolvi voltar. Fiquei com saudade. E nos meus dias em frente ao computador fui tecendo umas teses absolutamente inúteis, mas se o caro leitor está aqui atrás de algum nobre propósito, sinto dizer que veio ao lugar errado.
Não sigo muita gente no twitter. São 158 perseguidos, pra ser mais exata. Se sigo alguém que não costuma se manifestar, é provável que eu continue seguindo essa pessoa indefinidamente. Se sigo alguém que escreve idiotices que me fazem rir, seguirei... seguindo, e quando a identificação for profunda, hei de retuitar. Sigo quem me mantém informada: sobre as notícias do mundo, do país, da cidade; sobre as fofocas e baixarias dos chiques& famosos; sobre gastronomia, moda, música. Sigo mal-humorados espirituosos, bêbados convictos, versos do Chico, uma chef apaixonada, e completos desconhecidos, que pra estarem ali devem ser no mínimo engraçados, porque o fim último do twitter é diversão, pelo menos pra mim. Sigo amigos também, claro. Lógico que além de serem meus amigos, são pessoas interessantíssimas que sempre têm algo a dizer, ainda que na maioria das vezes não passe de imbecilidades. Imbecilidades hilárias, portanto absolutamente dentro do meu padrão de exigência.
Se ganho um seguidor, vou ver quem é. Posso fazer isso, pois não sou nenhum fenômeno de popularidade, como o Bonner, e tenho bastante tempo livre. Se a pessoa nem fala a minha língua, desconfio, já que eu só tuíto em português. Se é propaganda, paciência, pode me seguir, mas eu prefiro tirar proveito da assimetria dessa rede social. Se eu me deparo com um tweet divertido, sigo de volta.
Às vezes acontece de uma dessas criaturas que aparecem fortuitamente na minha timeline desandarem a escrever monguices. Monguices sem a mínima graça. Como que tomadas por uma compulsão, tuítam diarreicamente e torram o meu saquinho. Espero um pouco pra ver se o surto
passa, mas se o ritmo continua frenético e vazio, des-sigo. E acho engraçadíssimo quando a pinta se ressente e me des-segue de volta. Tipo: "ah é, é? Tu vai ver!". Chega a ser uma homenagem, porque aquele ser, afinal de contas, tá seguindo meu exemplo, livrando-se do entulho. Exceto pelo fato de que eu não faço questão de ser onipresente nas timelines alheias, mas anyway...
Esses mesmos tipos adoram falar da "massa de tapados" que mina a internet, da qual eles estão vertiginosamente acima. Hoje mesmo dei um unfollow em um que postou uma entrevista completamente retardada, com dizeres do tipo: "bom saber que existem pessoas acima do nível geral de babaquice da humanidade", ou alguma coisa assim... Ah, vai tomar banho...
Sem contar o poeta que posta versos insípidos, inodoros e indolores achando que ousa, choca, quebra paradigmas ou coisa que o valha. Parece que vai lançar um livro de tuitadas, agora na Feira do Livro. Qual é o sentido de se fazer um livro baseado no twitter, oh céus?!
Eu adoro o twitter. Continuo seguindo quem tem alguma coisa a dizer, especialmente aqueles que não se levam a sério. Mas, retuitando a Cora Rónai decidi: não tenho paciência com quem eu não tenho paciência.

sábado, 24 de outubro de 2009

FIM

"Isso é só o fim. O importante a gente já viveu" – disse a namorada, enquanto os dois caminhavam e conversavam como forma de despedida, já que ela estava indo embora e o namoro ia terminar.

Essa frase do filme “Apenas o fim” me pegou. Não é uma bela maneira de se encarar um fim, seja ele qual for? Ninguém gosta e lida bem com términos, principalmente se alheios a nossa vontade. Um fim de namoro, de casamento, de uma amizade, uma demissão, a morte. Difícil lidar com a sensação de vazio que essas situações trazem. Cai o chão, a insegurança reina, fim do mundo? O desconforto que vem com a perda é talvez um dos maiores sofrimentos possíveis, sair da zona de segurança e rumar para o incerto. Perder. Acabar. Fim. Merda, hein?

Merda, definitivamente. Mas será que não devíamos pensar que só perde quem um dia teve? E principalmente que, se a dor da perda é diretamente proporcional a intensidade do que foi vivido, a tristeza trazida pelo fim não seria um certificado de que antes houve felicidade? Uma espécie de ISO9000 da plenitude?

Aprender a lidar com o fim talvez seja um dos maiores desafios da humanidade desde as cavernas. Todo o apelo das religiões, por exemplo, reside aí. Grande parte dos estudos da psicologia e da filosofia partem daí – ou pelo menos deveriam. Eu não acredito em fórmula da felicidade, mas não tenho dúvidas de que tentar aceitar (entender, na realidade) a perda é um bom começo. Será essa uma parte do desapego defendido pelos budistas?

Não sei se eu conseguiria, perante o fim de algo que eu realmente gostasse, pensar simplesmente: é “apenas o fim”, mas o fim não é nada diante de tudo que foi vivido. Provavelmente não, o emocional descontrola nessa hora. O que eu sei é que pensando racionalmente me parece ser esse o caminho. Acho que, se como dizem, o tempo é o melhor remédio, a perspectiva que ele traz deve ser seu princípio ativo e a noção de que o “ter vivido” transcende e muito ao “ter acabado” deve ser a cura.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

2012???

Até os meus 18 anos eu nunca tinha visto ocorrer um Tsunami em nenhum local do mundo. De lá pra cá, só 6 aninhos, dois já arruinaram Indonésia, Tailândia e arredores. Santa Catarina sofreu dois anos seguidos com chuvas desmedidas e as conseqüentes enchentes, coisa que eu não lembro de ter visto antes também. Hoje é sexta-feira e eu não estou afim de tomar uma ceva. Não recordo um tempo tão esquisito em Porto Alegre desde sempre: faz um mês que chove desproporcionalmente, tem picos de calor, volta um frio desgraçado e vai começar o horário de verão sem eu ter certeza alguma sobre a estação em que me encontro. Descobri que o Willian Bonner é um palhação e não aquele cara sério do Jornal Nacional. A Paula está há quase um ano sem namorar oficialmente. Eu não estou gostando tanto de uma novela do Manoel Carlos.

Gente, to começando a achar mesmo que os sinais do fim do mundo estão por toda a parte!

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Diário de um louco anônimo

Há semanas estou com uma reação no meu corpo que no início não me preocupei muito. Aos poucos isso veio tomando conta do meu corpo de uma maneira que eu não sabia o que fazer. Não preciso dizer que isso tomou conta da minha cabeça inclusive. Alias, principalmente da minha cabeça. Minha cuca era um turbilhão. Pensei desde Matrix, em que o espelho começa a tomar conta do corpo, até em que eu era um homem peixe cheio de escamas. Pensei em aids, câncer, alergia à sabonete, à água quente, ao ar.

Tomei coragem e liguei para uma dermatologista. Dias antes minha cabeça conseguiu, coisa que eu achava impossível, turbilhar mais. Talvez a imagem que eu faça de uma panela de pressão sem a borracha na tampa pra fixar bem uma peça na outra. Quero lembrar que no meio disso tudo, estou tocando meus projetos, produções extras e trabalho fixo. Estou tentando voltar à faculdade e fazer tudo o que está pendente por causa de trabalho. E emagrecer. Não consigo fazer um diaxo de uma dieta. Quero emagrecer, todos querem que eu emagreça, mas na hora de acompanhar num vinho, numa cerveja, numa pizzas às 23h de uma terça-feira, todo me querem também. Até isso eu pensei, que minha reação epidérmica pudesse ser excesso de gordura, de álcool, de trabalho ou falta de carinho comigo mesmo, de exercício físico, de dinheiro.

No dia que antecedeu minha maldita consulta só pensei bobagem. Loucuras das piores. Só coisa ruim. Chorei longamente durante o banho que era para disfarçar. Talvez a água doce das minhas lágrimas e a água salgada da ducha formassem uma salobra que pudesse me curar. Seguia pensando. Eu estava com depressão. Naquele momento, aguda, agudíssima.Uma comida gostosa, um vinho e minha família (consequentemente carinho) me esperavam. Saí do banho, me sequei e depois de vestido, me dei conta que estava todo de preto. Talvez isso seja só uma mera coincidência. As minhas roupas mais confortáveis são pretas. O que e que eu posso fazer?

Bebi um pouco, escrevi, bebi um bocado mais e, na manhã seguinte, minha cuca estava prestes a ficar odara. Fui na médica, me expus e o resultado é só uma reação de um vírus de criança que tem efeito na idade adulta. Segundo ela, em umas duas semana eu devo estar limpinho. Cantei, dancei, fiz piadas. Eu era outra pessoa. Graças!

Procurar outra opinião médica? Imagina. Minha médica é ótima. Ela tem certeza. Não, não precisa. NÃO! A vida pode ser muito dura quando o coração não está disposto a olhar o lado iluminado da lua.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Humores

Quando se espera muita coisa, quando há possibilidades demais em um horizonte não muito distante, é obviamente gostoso, mas ao mesmo tempo se carrega uma ansiedade e agitação constantes, super difíceis de dominar, que até incomodam. Por outro lado, quando a vida está estabilizada, a rotina está seguindo seu curso normal e tudo está acontecendo dentro do planejado, a tranqüilidade impera, mas há uma monotonia chata lá no fundo que atucana, como um micro-pedregulho no sapato. Qual dos dois estados de espírito eu prefiro? Difícil, hein?

A minha ansiedade é algo normalmente discreto e controlado, pelo menos para quem vê de fora. Porém, quando em contato com doses cavalares de expectativas, não há mais qualquer controle ou racionalidade que a segure, eu sinto fisicamente: coração acelerado, adrenalina liberada gradualmente, agitação constante. Até um certo ponto é bom, riso fácil, animação geral, mas ela sempre passa desse limite e chega naquele em que não se sabe mais o que fazer, sendo que uma pessoa ansiosa SEMPRE tem que ter o que fazer.

Já a rotina bem vivida de uma vida estabilizada é uma maravilha para o corpo e para a mente. Entretanto, nada pior do que a total ausência de expectativas – pelo menos pra mim.

Dá até para fazer um paralelo com a paixão. Que maravilha é estar apaixonada, aquele início, a paixão avassaladora, o pensamento parando na pessoa o dia inteiro, de cinco em cinco minutos. Todo mundo busca isso, inevitável. Mas se pensarmos racionalmente – expressão obviamente ausente do dicionário de alguém apaixonadaço - não tem fase com mais alterações de humor do que esta. Vai-se do riso bobo ao ciúme infantil em um estralar de dedos, da felicidade plena à tristeza profunda em uma tarde sem o telefone tocar. Ao contrário, quando já se está naquela fase do namoro/casamento que a paixão enlouquecedora passou, o humor já não muda mais tão fácil, é muito mais difícil chegar na tristeza profunda... mas aquela felicidade plena, aquela alegria infantil, as inconfundíveis borboletas na barriga, também não dão muito sinal de vida não. E aí, o que é melhor?

“Cada escolha, uma renúncia”. Frase manjadíssima, e não à toa. Qualquer escolha traz inevitavelmente uma renúncia e talvez o grande desafio seja descobrir o melhor caminho a pegar. Eu acho que sempre tenderei ao caminho dos excessos, com ansiedade e paixão, foda-se. Quedas bem maiores, sem dúvida, mas provavelmente alegrias inigualáveis. Assim espero.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Já dizia Tim Maia: é primavera!



Chegou a primavera. O ano passou voando. Aliás, alguém me comentou certa vez que tem uma explicação física para o tempo passar cada vez mais depressa, dizendo que não é só impressão, que isso é realmente um fenômeno explicado matematicamente. Não duvido, eu prefiro acatar logo o que me diz alguém que estuda física quântica do que tentar inutilmente entender toda a explicação. O que eu sei é o que eu sinto: cada novo ano que chega passa mais rápido, o tempo está avançando em progressão geométrica.

Essa rapidez da passagem do tempo pode até incomodar para várias coisas, mas só por já estarmos na primavera de novo, eu sou imensamente grata a ela. Que delícia de estação! Pouca coisa melhor do que um dia lindo de sol sem estar um calor infernal, começar a usar roupas leves, os dias irem ficando mais longos, a cidade florida. Não só florida no sentido literal da coisa, mas colorida de pessoas, todo mundo saindo do casulo, começando a fazer exercícios na rua, desfrutando da cidade que no inverno não é lá tão acolhedora. E além de tudo isso, já ir sentindo o cheirinho e a expectativa do verão.

Não sei se é a estação ou a própria vida que me deixou sentindo leve assim, mas que essa sensação não passe tão rápido quanto o tempo, segundo estudantes de física quântica.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

10 coisas que não saem da minha cabeça:

1.
How does it feel
How does it feel
To be without a home
Like a complete unknown
Like a rolling stone?

2.
Como um país como os EUA, conhecido pelo ensino público de qualidade, seguro desemprego, dentre outras tantas assistências eficientemente prestadas pelo governo, não possui um sistema público de saúde? E mais: o quão forte é o lobby das seguradoras a ponto de deixar o Obama mal visto por querer implementar um?

3.
Porque raios a Maya mudou de roupa de repente e ninguém explicou nada hein?

4.
Desse ano não passa. Inter campeão brasileiro.

5.
Que a boa fase aquela não tenha passado, que esteja só suspensa.

6.
Preciso estudar. Preciso correr.

7.
Quem será o oitavo integrante do CQC?

8.
Será que vai dar certo? Tudo isso?

9.
Os fins não justificam os meios, principalmente na política.

10.
Rio de Janeiro. Rio de Janeiro. Rio de Janeiro. Rio de Janeiro.Rio de Janeiro.Rio de Janeiro.Rio de Janeiro.Rio de Janeiro.Rio de Janeiro.Rio de Janeiro.Rio de Janeiro.Rio de Janeiro.Rio de Janeiro.Rio de Janeiro.Rio de Janeiro.Rio de Janeiro.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

speakeasy

Hoje de manhã, enquanto tomava um café na faculdade, folheei uma revista velha (em se tratando de revistas semanais) e encontrei uma matéria que por pouco não me fez mandar a aula às favas. Falava sobre o movimento speakeasy, onda gastronômica que começou nos EUA e começa a dar pinta por terras tupiniquins. É uma bossa de "restaurantes underground", clandestinos, restritos e intimistas, sem alvará e com muito charme. O nome do movimento, by the way, se deve às casas que vendiam álcool na terra do Tio Sam na época da lei seca: se quisesse descolar um goró, o negócio era speak easy, falar baixinho, na manha, pra não dar bandeira...
Mas não se engane com os estabelecimentos fora-da-lei: não falo de lugares sujos, tampouco de chefs sonegadores, e menos ainda de cenários para reunião de quadrilhas ou rendez-vous. A idéia, na verdade, é bem simples: uma pessoa comum, dada a receber - bem - outras pessoas, e preferencialmente com mão boa pra cozinha, abre sua casa e ali oferece jantares a grupos pequenos. Grupos estes formados por gente que anda meio sem paciência pra reservar mesas nos ambientes sofisticados dos restaurantes, onde serão atendidos por garçons polidos que não vêem a hora de o último cliente pedir a conta (astronômica, via de regra). Pessoas interessadas em comer bem em uma atmosfera mais relaxada, menos impessoal, com cara de casa mesmo, sabe?
Então, o anfitrião cuida da ambiance, bola o menu, e define como seus convidados serão avisados (twitter, blog, e-mail, telefone). Esgotada a lotação da mesa de jantar e do sofá da sala, o povo vai chegando e fica por ali, à vontade, interagindo, bebendo vinho... A música segue o ritmo (agorinha a Billie Holiday tá me inspirando de uma maneira... e isso que eu acabo de sair da cozinha depois de 7 horas de trabalho intenso), e logo todos degustam o jantar (que pode ser almoço, brunch, drunch, café-da-manhã, qualquer hora é hora). A essas alturas o povo já se conheceu: trocam impressões sobre a comida, sugerem uma trilha sonora, começam a perguntar quando será a próxima...
Li a matéria e já comecei a bolar noites de speakeasy aqui em casa, misturando gente, testando receitas e me divertindo ainda mais do que de hábito atrás do fogão! Passei toda a aula de Consumidor pensando em como atrair glutões transgressores e fiquei até agora com isso na cabeça... quem sabe?

sábado, 29 de agosto de 2009

“Tudo me move.”

Patrice Chéreau, um dos maiores diretores contemporâneos de teatro, ópera e cinema fala sobre sua vida, criações, inquietudes e o Brasil.


De Nova York por telefone, nossa conversa começou com Chéreau ligando para a sede do Porto Alegre em Cena por causa de uma chamada não atendida no seu aparelho celular. “Estou com esse número no meu celular. Estou dando o retorno”, ele justifica. Falamos um pouco quando me pediu para ligar em meia-hora. Após 30 minutos exatos, retornei. Chamou e ninguém atendeu. Segundos depois o telefone do Em Cena toca. É ele se desculpando. Desligamos e em seguida liguei para ele. No que finalmente conseguimos tabular uma conversação, Chéreau riu dos textos que montou quando era jovem e da visão de grande diretor que só ele desconhece.
Ao longo da conversa, que durou mais de uma hora, passamos do tema profissional da sua carreira artística e espetáculos para falar de inquietudes, política e humanidade. Terminamos com autores, projetos, textos e o futuro. Antes de desligar eu o disse que em breve nos encontraremos em Porto Alegre quando ele estiver na cidade para as apresentações de O Grande Inquisidor nos dias 12 e 13 de setembro de 2009 às 21 horas no Theatro São Pedro. Antes disso, sua atriz Dominique Blanc estará em cartaz com La Douleur, direção dele, no mesmo teatro nos dias 9, 10 e 11 de setembro também às 21 horas.


Porto Alegre em Cena: O seu trabalho é reconhecido no Brasil pela excelência artística. Você é considerado um dos maiores encenadores contemporâneos do mundo.
Patrice Chéreau: Ah! Muito obrigado.

É verdade. Como o teatro, o cinema a e ópera entraram na sua vida?
(Risos) Oh! Quando eu era muito pequeno, uma criança. Lembro de montar uma peça com uns amigos e me apresentar no colégio onde eu estudava, na cidade de Lézigné, onde nasci. Fui muito novo para Paris, com doze anos de idade. Não sei por quê. Eu venho de uma família de artistas. Meu pai era pintor e minha mãe designer, mas ela também pintava. Então quando criança eu costumava pintar, desenhar. Um dia, comecei a fazer teatro. Eu ia muito a teatro. Quase todo o final de semana. E gostei muito daquilo.

Então você começou a sua vida artística no teatro?
Sim. Mas depois fui estudar em Paris, em outro colégio. Lá havia um grupo de teatro e me juntei a eles. Lembro que ganhei um papel bem pequeno, mas eu era muito ruim, tinha apenas dezesseis anos nessa época. O meu trabalho no grupo era pensar o cenário, pintar o cenário, pensar as luzes, pendurar as lâmpadas e ensaiar. Eu não dirigia e nem atuava ainda. Esta escola era muito próxima à uma coisa muito importante para nós, a Cinemateca de Paris. Eu ia a Cinemateca dia sim,dia não, e durante todos os finais de semana. Por causa disso, entrei nesse grupo e gostava muito de estar ali, de ajudar. Via as pessoas trabalhando e ia ao cinema para ver todos os filmes apresentados, o expressionismo alemão, muito outros. Nesse grupo, eu era o mais velho, e então, naturalmente, comecei a dirigir. Isso aconteceu em 64 e, desde então, nunca mais parei. Foi a minha primeira produção teatral.

Qual o nome do espetáculo?
Era uma peça de Victor Hugo. Na verdade, sete peças. Os atores tinham medo dela. (Risos) “A Intervenção”, L'Intervention, de Victor Hugo. Uma peça muito estranha. Não era boa. Mas, sabe, quando você é jovem tem a idéia, quer montar e fazer peças de autores desconhecidos, textos desconhecidos. Tinha 19 anos nessa época. As montagens já eram consideradas profissionais. Depois, montei espetáculos com textos de Molière. Algumas pessoas foram assistir à uma dessas peças e fui convidado para dirigir minha primeira ópera, “A Italiana em Argel”, de Rossini, com doze pessoas. Isso foi feito em Spoleto, uma pequena cidade da Úmbria, na Itália. A ópera tinha sido dirigida por um famoso escritor ítalo-americano, Giancarlo Binote, e foi ele quem me convidou para fazer a produção do espetáculo. Depois, fui chamado para trabalhar no Piccolo-Teatro, em Milão. Tive muita sorte. Sempre tive muita sorte. Foi muita sorte ter trabalhado em Milão, nesse belo teatro, com excelentes atores. Depois disso, voltei à França.

Quanto tempo você ficou na Itália?
Três anos, de 1970 a 1973. Em 73, voltei para a França. Voltei para ser co-diretor do Teatro Nacional Popular de Paris, com Roger Planchon, justamente quando o Ministro da Cultura da França, Sr. Jacques Duhamel, transferiu o Théâtre National Populaire para Villeurbanne, perto de Lyon, fundado pelo próprio Planchon, em 1957.

Quando e como começou a sua trajetória com o cinema?
Em 1974, com “La Chair de l'Orchidée”, A Carne da Orquídea, meu primeiro filme, com Charlotte Rampling no elenco. Já tinha feito alguns filmes curtos para a televisão. Eu já era famoso no teatro, e resolvi escrever e dirigir um roteiro para outro veículo. Depois, comecei a fazer meus próprios projetos de cinema.

Todos esses anos dirigindo teatro, ópera e cinema. Qual a diferença entre eles? O método de direção muda de um para o outro?
Não. É o mesmo trabalho. É exatamente o mesmo trabalho. Com textos diferentes, com ferramentas diferentes. São mídias diferentes, mas o meu trabalho é exatamente o mesmo. Você está contando uma história para a platéia em qualquer um deles. Fazendo com que o espetáculo torne essa história clara. Só posso continuar trabalhando nessas três formas de arte porque acredito que seja o mesmo trabalho para todas. Não vejo diferença entre elas.

Você costumava ver diferença entre elas quando era mais jovem?
Ah sim! Porque as pessoas me forçavam a ver que elas eram diferentes. Queriam me convencer de que teatro e cinema são diferentes. Eu sei disso. Não sou estúpido. Mas, de alguma maneira, para mim é igual. Há coisas que você pode ter na tela que você não pode conseguir fora dela. Você pode ter o close up e você pode ter o corte no cinema, é claro.

E o seu compromisso com as três artes é o mesmo?
Depende. Depende do momento. Fiz muito teatro, muito cinema, mas nesses últimos quatro anos me dediquei mais à ópera. Fiz três produções e agora estou fazendo uma remontagem em Nova York. O problema é tempo, cronograma de trabalho. Meu último filme fiz para o festival de Veneza. Nos últimos anos, não fiz mais cinema porque estava envolvido com óperas. Depois quero voltar a fazer teatro. É tudo uma questão de agenda. Até porque uma ópera deve ser preparada três anos antes de estrear e um filme em três meses vocês termina as gravações. Em quatro anos, sem dúvida eu poderia ter feito vários filmes.

A Rainha Margot é um dos seus filmes mais conhecidos no Brasil.
É o meu filme mais conhecido em todos os países.

É um filme maravilhoso. E você conhece algo do cinema brasileiro?
Não muito. Eu conheço muito bem o Walter Salles. Eu o conheci pessoalmente, vi seus filmes e gostei muito. Mas é o único nome que me vem à cabeça.

O que o senhor espera das apresentações de La Douleur e de Le Grand Inquisiteur no Brasil, nas cidades de São Paulo e Porto Alegre?
Não sei. Teremos de esperar. Estou muito curioso e feliz de levar esses espetáculos ao Brasil, porque só estive uma vez no Brasil, isso em 1980. Estive no Rio de Janeiro e em São Paulo para algumas conferências. Será a primeira vez que estarei apresentando no Brasil meu trabalho como diretor e ator.

Nos trabalhos de ator, você tem algum processo definido para a construção de seus personagens?
Atuo muito poucas vezes. Não é meu trabalho principal. Meu trabalho é o de direção e, às vezes, eu próprio me dirijo. “O Grande Inquisidor” é uma leitura. Estarei sentado no palco com o texto na mão, lendo. Claro que não é simplesmente uma leitura. Mostro ao público como penso que esse texto deve ser dito, como eu o vejo. Meu trabalho de ator está sempre ligado ao meu trabalho de diretor.

E dirigir Dominique Blanc? Como foi sua relação com ela ao dirigir “La Douleur”?
Já tinha trabalhado com ela antes, interpretou a mãe na Rainha Margot. É uma excelente atriz com quem gosto muito de trabalhar. “La Douleur” não é um texto feito para o teatro. Apresentei esse texto da escritora Marguerite Duras para Dominique porque o achei muito bom. Trata das dores de uma mulher que espera seu marido voltar de um campo de concentração nazista. É muito diferente de uma peça cujo texto é feito para teatro; é um texto extremamente literário, uma opção de trabalho mais difícil, mas instigante. É importante escolher textos assim para serem trabalhados no palco e contar também no palco histórias que não foram escritas para o teatro.

E as suas expectativas com relação à interpretação de Dominique Blanc foram atingidas?
Não crio expectativas em relação às minhas peças. Diretores não têm expectativas. Claro que quando dirijo, espero o melhor, mas as expectativas são com relação ao texto. Os caminhos do processo de direção de uma peça mudam durante os ensaios. Espero encontrar sempre uma situação nova e inesperada.

Nos espetáculos La Douleur e Le Grand Inquisiteur vocês usa muitos efeitos de som e de luz. Isso é uma coincidência ou uma opção estática?
Não. Não uso efeitos de som no “Le Grand Inquisiteur” e a luz do espetáculo é muito simples. Há apenas uma iluminação básica para que as pessoas possam me ver lendo o texto. Em “La Douleur” há efeitos de som, mas são muito discretos e a iluminação também é simples. No teatro, o que gosto de trabalhar é a relação entre o ator e o texto. Minha direção é voltada para que o público veja a força de um texto na interpretação de um ator. Os efeitos técnicos vêm de fora para complementar, mas não fazem parte essencial da encenação.

No início da nossa conversa você disse que, quando começou sua carreira artística, trabalhava na parte técnica dos espetáculos produzidos no colégio onde estudava. Isso não dá vontade de usar mais os efeitos de luz, som e cenário?
Pelo contrario. Naquela época, justamente, aprendi que o meu trabalho era para servir de pano de fundo ao trabalho dos atores. Gosto disso no teatro, prioritariamente. Na ópera e no cinema, posso utilizar mais esses efeitos todos, mas no teatro minha opção de direção está definida.

Há algum autor de que você tem vontade de montar para o teatro ou cinema que nunca tenha montado antes?
Tenho um projeto para o próximo ano, 2010, de montar uma peça, na verdade duas peças, de um autor francês ainda não muito conhecido, Jon Fosse. É um belo escritor e um belo texto.

Nesse momento você está dirigindo uma ópera em Nova York. Pode falar um pouco sobre esse trabalho?
Sim. Fui convidado para fazer a remontagem de uma ópera adaptada do escritor russo Fiódor Dostoievski, que se chama “Recordações da Casa dos Mortos”, inspirado em sua vivência,em 1849, quando foi preso e acusado de participar em reuniões na casa de um revolucionário que conspirava contra o regim. Aí, Dostoievski foi condenado à morte. Passou nove anos na Sibéria, quatro no presídio de Omsk, e mais cinco como soldado raso.

Você gosta de Dostoievski ainda hoje?
Dostoievski foi um grande escritor, mas para esse trabalho só fui convidado para a remontagem da ópera. Estou trabalhando nele agora, interrompo para ir ao Brasil e depois à Argentina. Volto para o trabalho final e a tempo de assistir a estréia, em novembro.

Você tem alguma inquietude? Algo que o mova e que você usa no seu trabalho?
Tudo me move. As pessoas que vejo nas ruas todos os dias quando vou pegar o metrô. As relações das pessoas, a individualidade das pessoas. Tudo faz parte do meu trabalho. Penso no que vai acontecer com o mundo: guerras, política, economia. Tudo isso me move, tudo mexe comigo.

E essas coisas, como você as utiliza no seu trabalho?
Procuro traduzir esses sentimentos para o palco, me perguntando sobre essas questões enquanto trabalho. Nem sempre encontro as respostas. Não tenho respostas para todas as minhas perguntas. Por que as coisas são como são? Por que alguém não tem o que comer se trabalha tanto? Por que alguém com poder pratica o mal e não tem paz?

Você sabe que Peter Brook também montou o texto “O Grande Inquisidor”?
Sei, sim. Mas não assisti ainda.

Você saberia me dizer por que dois grandes diretores de teatro no mundo escolheram o mesmo texto para dirigir?
Porque é um texto maravilhoso. O texto é fantástico. Ele tem tanto para falar sobre os seres humanos. Das pessoas, da essência humana. Fala muito sobre a liberdade.

Você tem a consciência de ser um grande diretor? Você sabe que as pessoas admiram o seu trabalho?
Sei que isso é um fato. Mas não sei porquê e nem o que isso significa. Hoje mesmo, de manhã, estava indo para o ensaio e uma moça me chamou pelo nome. Eu me virei para ver o que era e, então, ela me falou o quanto admirava meu trabalho. Ora, estou em Nova York, cidade com oito milhões de pessoas transitando pelas ruas. Aparentemente todos sabem que sou um bom diretor, menos eu.

Você pensa no futuro?
Não penso muito no meu futuro, mas penso muito no futuro do mundo, no futuro da humanidade.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Da lua


Pois é. Então. Fases.

Que coisa engraçada que é a vida. Mais de uma vez eu já escrevi por aqui sobre isso, sobre como a vida é cíclica, como determinadas situações se repetem e por aí vai. O interessante é que, mesmo isso acontecendo, a gente sempre nota e aprende alguma coisa nova, tudo é uma soma, experiências nunca são demais.

Eu tenho um pendor a acreditar em astrologia. Não no horóscopo diário, que sai no jornal e me recomenda “cautela com os doces” ou “chances de encontrar o amor da sua vida”, mas na influência dos astros na vida da gente. Tem vezes que me parece ser a única explicação.

Essa forma cíclica da vida, por exemplo. É engraçado como certas coisas tem uma freqüência, se não previsível, regular. Eu estava vendo a entrevista do Felipe Camargo, por exemplo, e a Marília Gabriela comentou que ele explodiu para o sucesso com 24 anos, na minissérie Anos Dourados. Passou um tempo sendo o 1º galã da Globo, depois vieram os escândalos, a escassez de trabalho e por fim o ostracismo. Ninguém mais ouvia falar em Felipe Camargo. Agora ele retomou a projeção nacional ao protagonizar a excelente minissérie Som e Fúria, aos 48 anos. Não é engraçado que ele tenha encontrado o sucesso a cada 24 anos da sua vida?

O “retorno de Saturno” é outro exemplo de crença astrológica que eu acredito porque observo na realidade. Explicando para quem não sabe (explicação baseada no conteúdo do site Terra): entre os 28 e 30 anos de idade, ocorre o primeiro retorno de Saturno, ou seja, o planeta em trânsito se posiciona no mesmo local em que estava no momento de nascimento da pessoa. Assim, dá início a uma nova volta em torno do zodíaco.

Desta maneira, é uma espécie de rito de passagem, a partir deste período muitas coisas que antes eram parte de uma gama de opções se tornam definitivas, surge a necessidade de determinar o que vai dar impulso aos próximos 28 anos e tudo o que é decidido tem sua repercussão e conseqüência. É quando se adquire definitivamente autonomia, quando se começa a se preparar para inverter os papéis (de filho para pais).

Nesta época, surge a necessidade crescente de se fundar um lar, ter filhos, educá-los e progredir profissionalmente. Se começa a pensar seriamente no futuro e é o primeiro contato com a sensação de que o tempo passa e que a velhice não tarda a chegar, daí vem a intensificação das cobranças internas. Nessa época, as pessoas que ainda não se definiram na vida passam a se sentir muito angustiadas, porque o fantasma do fracasso começa a ameaçar. Freqüentemente, nesta idade as pessoas retomam os estudos, procuram caminhos profissionais definitivos e não mais bicos e trabalhos esporádicos. A crise provocada por Saturno sempre é complicada, já que mexe com assuntos como o tempo e a idade, fracasso, frustração ou sucesso. Alguma dúvida de que todo mundo passe pelo Retorno de Saturno?

Na minha vida essa “ciclicidade” também é nítida, já cansei de falar sobre isso. Parece que ela vai dando guinadas de dois em dois anos. Geralmente os meus anos ímpares são os de virada e os pares são os de firmação, de calmaria e consolidação do que veio um ano antes. Olha só: 2003 entrei na faculdade. Tudo novo. 2004 segui lá. 2005 comecei a namorar, fui pra Austrália, larguei a faculdade. 2006 voltei, me acalmei, estudei. 2007 faculdade nova, fim de namoro, trabalho novo. 2008 mesmo estado civil, mesmo emprego. 2009 novo emprego. Não é engraçado? E isso se repete em diversas outras áreas da minha vida, no meu humor, nas pessoas á minha volta, em tudo.

Uma amiga minha que fez mapa astral me disse uma vez: “se a lua, como sabemos, influencia tão direta e visivelmente as marés, porque não influenciaria as pessoas, cujo corpo é composto por mais de 80% de água”? Não é de se pensar?

Não que eu me guie por isso, que eu fique esperando as mudanças astrológicas, mas eu vou notando elas de certa forma. E, só por via das dúvidas, aumentei a cautela com os doces.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Carta de ator anônimo

Não admito quem não gosta de Godard, Fellini ou Bergman. Só um ignorante não conhece um texto do Beckett, Tchékhov ou Ibsen. Leio muito esses autores porque isso é cultura. Eu tenho a cabeça muito aberta, afinal eu estudo teatro que é uma arte que abre muito a cabeça da gente, não é. Vejo o mundo de uma outra forma. Nada mais me choca.

Sofri muito nos últimos anos. Fiquei muito tempo parado, sem fazer teatro. Ficava triste e brabo ao mesmo tempo. Ninguém me chamava. Comecei a ficar desesperado. Sofri muito nesse período. Via outras pessoas com projetos e trabalhos legais e eu não fazendo nada. Achava que eu era um péssimo ator. Que as pessoas me acham um péssimo ator. Até que voltei a ativa.

Muito bom estar de volta no palco. Em contato com as pessoas. Só ensaiar todos os dias é que é sacrificante. E quando pra juntar o elenco todo pra passar um corridão temos que ensaiar final de semana? Um inferno. Um saco não poder almoçar com os amigos de teatro em locais de teatro, falar de teatro e de pessoas de teatro. Lembrar dos momentos do passado teatral e rir das mudanças que tiveram no teatro. O pior é ainda ter que ensaiar no frio. Deus me livre! Se bem que no calor também é sacrificante. Pode fazer mal pra voz.

Não. O pior é quando o diretor ainda pede pra passar e repassar a cena umas dez vezes. Não sei fazer. Não sei fazer assim como ele quer, porra. As vezes ele diz que ta bom e aí no ensaio seguinte já quer coisa diferente. Assim não dá. Fico triste e brabo ao mesmo tempo. Começo e ficar desesperado. Sofro muito nesse período. Acho que sou um péssimo ator. Que as pessoas me acham um péssimo ator.

Não, sou muito feliz. Acho maravilhosa a carreira de ator. Acharia lindo se eu morresse no palco. É o que eu quero.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Dicas.

Além de "Coração Vagabundo", o documentário do Caetano que eu já comentei por essas paragens, tô -l-o-u-c-a para ver os três filmes brasileiros cujos trailers coloco aí em baixo.

Sigo encasquetada em mostrar como o cinema brasileiro não fala só de violência, tem qualidade e já faz filmes para todos os gostos. Pena que ainda penamos na distribuição: os três já estrearam no eixo Rio/São Paulo, mas sabe-se lá quando serão exibidos por aqui... a mim resta esperar. E deixar a dica para vocês.





terça-feira, 11 de agosto de 2009

de método, cinema e anseios

Nesses tempos de férias estendidas por conta da gripe suína, tenho dedicado meu (abundante) tempo livre a tarefas produtivas. Aos trancos e barrancos consegui estabelecer uma disciplina tccística, e atualmente as primeiras horas da manhã - e as últimas da madrugada, que é como eu considero o período entre 0h e 9h - giram em torno de denominações de origem, indicações geográficas, vinhos e a OMC. Dependendo do capítulo, vai-se a tarde também nessa brincadeira. Quando meu cérebro se cansa de formular frases acadêmicas, passeio pelo twitter, pelos e-mails e até aqui pelo blog. Sim, porque a meu ver estas são atividades produtivas. Resolver pendências e me comunicar com as pessoas ao toque do teclado é uma mão na roda. Saber das notícias da Folha, do NYT e da CNN em tempo (quase) real é um luxo, impensável até bem pouco tempo atrás. E ler e escrever besteira produz um efeito altamente desopilante na mente, estudos comprovam! Claro que quando eu abro o link que o Rafinha do CQC tuitou, em que um trio de japoneses canta bizarramente durante 13 minutos, sinto que estou desvirtuando o papel da internet na minha vida, mas fora um que outro excesso eventual, a web é uma aliada e tanto.

No mundo real, me empenho diariamente em educar um vira-lata excessivamente sociável que tem fobia de atravessar a rua. Já ensinei o Alemão a sentar, e salvo alguns quase-atropelamentos, a missão tem sido um sucesso, pura adrenalina. Se você vir uma mulher sendo arrastada por um guaipeca pelas redondezas da encol, sou eu.

Além disso, o convívio familiar intenso tem contribuído para que eu possa me tornar monja no Tibet dentro de alguns anos. Ou interna no São Pedro, tudo pode acontecer. No mais, a corrida nossa de cada dia sim, dia não e a terapia, que aos poucos me convence de que entre o Tibet e o São Pedro pode haver uma opção mais aprazível.

Dito isso, posso começar a divagar sobre o tempo. Não é paradoxal que as pessoas que trabalham o dia inteiro anseiem por mais tempo livre; enquanto que aquelas que, como eu, têm uma agenda mais folgada costumam dizer que o excesso de tempo disponível mais atrapalha do que ajuda? Me acostumei a repetir quase que no automático: "quanto mais tempo se tem, menos se faz..." De fato, assim me pareceu a vida até aqui. Chefes, professores, prazos, provas... me habituei a administrar meu tempo condicionada a prazos estabelecidos desde o exterior. E agora me percebo às portas de me tornar senhora do meu tempo: não pretendo ser empregada de ninguém tão cedo - sou uma profissional liberal em início de carreira; a faculdade aparentemente vai acabar mesmo dentro de alguns - poucos - meses, ou seja, doravante, it´s up to me...!

Dá um certo frio na barriga, sim, mas não é desse turning point que eu quero falar. Tenho em mente o tempo livre em geral, ao longo da vida. Por muito tempo me angustiou minha falta de método nas minhas buscas por conhecimento fora do território escolar/acadêmico/profissional. Invejava aquelas pessoas capazes de discorrer longamente sobre todo um período da história da arte, ou que conhecessem de cabo a rabo a obra de um autor. Mas simplesmente não conseguia eleger uma área à qual me dedicar tão avidamente. Sigo admirando aqueles poços de cultura que derramam conhecimento pelos poros, mas hoje aceito esse meu jeito nômade e confesso que me agrada pensar que minha eterna ignorância deve seguir me levando a lugares impensados.

A associação entre tempo livre e enriquecimento cultural não é fortuita. Comecei esse post pensando no pai aquele que encampou a idéia do filho adolescente de largar o colégio sob a condição de que o guri assistisse a uma lista de filmes selecionados por ele, pai. A lista incluía títulos tão diversos quanto A Doce Vida, de Fellini, e Os Reis do Iê-iê-iê. Nenhum método, apenas o objetivo de desenvolver o espírito crítico do guri e incutir um pouco de cultura naquela cabeça tão refratária à educação tradicional. O pai em questão é o escritor David Gilmour, e a experiência deu origem ao livro "Clube do Filme", que deve ser interessantíssimo, mas eu não li e dificilmente lerei, por falta de... tempo. Bastou ler a crítica no jornal pra eu me reconhecer como uma entusiasta do experimento dos Gilmour, antes mesmo de ouvir falar neles.

Sempre acreditei na educação por meio do cinema, apenas não consegui convencer minha mãe de que isso bastava. De modo que estou terminando a faculdade, mas sigo buscando absorver conhecimentos de maneira absolutamente incoerente, sem preconceitos. E isso em todas as áreas, não apenas no que diz respeito à cultura cinematográfica.

Por isso me enerva escutar de alguém frases do tipo: "não vejo filme brasileiro"; "não escuto música popular"; "não falo com estranhos"; "não como nada com pimenta"... Como se todos os filmes produzidos no Brasil fossem pornochanchadas, toda música popular fosse Calypso, todo estranho fosse bandido e todo prato apimentado fosse ardido.

Falando especificamente em cinema, assistir a produções de todas as épocas, gêneros e procedências significa manter aberto o canal da linguagem, apurar minha capacidade interpretativa e enxergar o mundo de uma maneira bem menos maniqueísta do que certamente seria no caso de eu encarar somente blockbusters americanos (ou qualquer outro gênero que fosse entendido com o único válido).

Encerrando com a união entre (falta de) método, cinema e anseios, segue o roteiro da semana que passou diante dos meus olhos:
Caramelo, filme libanês sobre um grupo de mulheres e suas feminices (de PoA a Beirut, não muda muita coisa, e a beleza da história tá aí); Love Story (love story, bem isso aí, vi mais por curiosidade depois da morte da Farrah Fawcett); Breakfast at Tiffany´s (além de mostrar a graça da Audrey, me impressionou pelo espírito bastante libertino pros padrões da época, com festinhas mucho locas no cafofo da Ms. Golightly); Nós que Aqui Estamos por Vós Esperamos (esse merece um post especial, que provavelmente eu não escreverei, por não acreditar que eu possa dizer qualquer coisa à altura. É italiano. É uma obra-prima. Vai lá.); Tartufo (baseado na comédia de Moliére, a produção é da década de 20, cheia de graça e beleza. E eu pensando que não fosse rir, sequer sorrir, diante de um filme mudo...); Podecrer (mostra uma gurizadinha terminando o colégio no Rio do início da década de 80. Se imagens cariocas sempre me trazem uma certa nostalgia, imagens nostálgicas do Rio quase me levam às lágrimas); Cidade Baixa (um triângulo amoroso numa Salvador feia, suja e malvada. E ainda ssim tocante!) e por fim, Apocalypse Now. Este eu também não me sinto digna de escrever a respeito. Vi ontem à noite e sigo assombrada pelo Vietnã, por aquela guerra estúpida, pelo Marlon Brando, pelo horror, o horror, o horror...
Foi uma semana interessante, pra dizer o mínimo. Depois do apocalypse, ainda terminei de ler a Saga Lusa da Adriana Calcanhotto, que ainda não decidi se é muito bom ou se eu devorei por conta da identificação com o surto psicótico que ela narra. De qualquer forma, catei o Pequeno Tratado das Grandes Virtudes, que andava por ali, antes de pegar no sono, e abri no capítulo sobre temperança. Acordei serena e descansada hoje de manhã, louca pra ir ver a exposição de arte francesa no MARGS e o acervo do Iberê, com direito a pôr-do-sol na sequência. Depois dos compromissos diários, bien sûr.

domingo, 9 de agosto de 2009

sentir – senti – sem ti II

No primeiro texto sentir – senti – sem ti, de dezembro de 2008, falei mais da minha relação com três grandes cantoras, Elis Regina, Édith Piaf e Billie Holiday que me emocionam muito. Além, é claro, de inúmeras outras as quais amo de mais como Nina Simone, Bjork, Clara Nunes, sem falar nas atrizes cantoras Marília Pêra, Bibi Ferreira, dentre outras tantas. Enfim! Esse quero dedicar a escritores maravilhosos cujos livros me deixam com o coração do lado de fora do peito. Exposto, revela amores, amantes, amados.
Estou falando de Charles Bukowski e Bertolt Brecht. Dois escritores maravilhosos que conheço há alguns anos. Bukowski da literatura e Brecht das peças de teatro e também um pouco da literatura. Mas o ano de 2009 me trouxe as poesias desses dois grandes mestres cujas emoções estão ali, em cada palavra, em cada virgula. É impressionante como se pode notar! Pelo menos eu noto. Pode ser que o uísque ajude na minha interpretação, mas acredito mesmo que quando se escreve alguma coisa com emoção, ali ela fica, encravada.
Uma boa história te liga, te deixa desperto, te faz pensar, te ensina, te deixa noites sem dormir, te cola as capas nas mãos, mas uma história, não, uma qualquer coisa. Uma palavra, uma poesia, uma musica, um texto, um delírio que sejam escritos com emoção, te apaixonam! Leiam, amem e mudem.




terça-feira, 4 de agosto de 2009

enjoy the silence

Chego de férias e me deparo com uma produtividade intensa aqui no Purfa. Luiza e Pato a todo vapor: cabeças fervilhando, dedos tinindo, uma loucura! De cara quis escrever algum texto perspicaz, à altura, mas ôxi, que me deu uma preguiça...
Habituada que eu sou a escrever textos-manifesto, percebo que voltei pra frente do teclado sem ter uma idéia que eu quisesse muito compartilhar. Sabe como é voltar de uma viagem em que muitas coisas aconteceram e não ter o menor saco de contar como foi? É isso. Em parte. Porque resumir vários dias espetaculares durante um almoço fatalmente banaliza a experiência...
Mas tem outros detalhes, e agora eu começo a me preocupar ao me dar conta de que talvez eu escreva um bocado sobre a minha falta de vontade de escrever...
O que essas férias tiveram de diferente foi o fato de eu ter voltado com outro estado de espírito, e isso ser a grande novidade. Claro que o roteiro incluiu também paisagens deslumbrantes, personagens pitorescos, festas, indiadas, camaradagem... Mas falar dessas coisas todas sem mencionar o bem que elas me trouxeram me faz sentir como se estivesse lendo um guia turístico, ao mesmo tempo em que contar da viagem explicando o porquê de eu ter voltado tão zen me transformaria numa mala sem alça, tipo aquelas pessoas que querem converter todo mundo à dieta macrobiótica, à Bola de Neve Church, ou a qualquer roubada que traga a promessa de "mudar sua vida".
Então serei breve, pra evitar o tom de profetisa do apocalipse, mas vou ter que falar um cadinho da Bahia... Dias de sol e mar, noites de forró... aquele povo debochado, o sotaque contagiante (mesmo!)... o cansaço de um dia bem aproveitado, curtido como a vida deve ser... aquela atmosfera conseguiu o que parecia impossível: me desacelerar. Relaxar cada músculo do meu corpo. Ver graça no que antes andava me enervando. A ausência de um itinerário apertado, cheio de atividades programadas, foi fundamental: nossa única preocupação era que fizesse tempo bom, e com isso o dia se resumia a estender as cangas na areia e ali ficar até o dia acabar. Dava pra sentir a paz chegando e se instalando, ocupando todos os espaços, sintonizando minha freqüência e eliminando os ruídos.
Esses dias por lá como que prepararam o terreno pro que veio depois: fui a Campo Grande, MS, visitar minha família paterna, que eu não via há mais de 15 anos. Conheci uma irmã, revi primos que brincavam comigo e agora são casados, têm filho, ou simplesmente cresceram consideravelmente, meus tios envelhecidos, meus avós mais ainda... Passei um espanador na minha história, e me surpreendi com o que encontrei sob o pó.
O que ficou desses dias? Eu ainda não consigo dimensionar. Só sei que cheguei aqui praticamente desprovida de convicções, e muito mais interessada em observar do que em me manifestar. Porque tenho a nítida impressão de que meu modo de enxergar o mundo mudou drasticamente, e agora eu acordo de manhã curiosa pra saber como vai ser o dia, visto daqui.
Não descrevo as primeiras impressões pela mesma razão de umas linhas acima, mas posso dizer que a nuvem negra do meu último post já voou pra bem longe daqui...
E não virei macrobiótica nem crente, caso alguém tenha ficado apreensivo.

RAÇA

Questão difícil essa das cotas raciais. Aliás, todo problema que tem como cerne a questão “racial” é bem complicada. Isso porque mexe com preconceito (tanto dos ofensores, como dos próprios ofendidos), com descriminação, com todo um histórico de desavenças. A escravidão marca tanto que dizem que demora mais do que o triplo do tempo que ela durou para apagar os seus vestígios. Eu ainda duvido que haja tempo passível de apagar os seus vestígios...

Acredito que no Brasil há sim uma imensa descriminação, mas não somente contra negros: há descriminação contra o pobre em geral, seja ele negro, branco, pardo. É claro que existe preconceito contra negros, conversa com um alemão da colônia para ver... mas aí também existe preconceito contra gays, contra alemães, contra deficientes, contra mães solteiras. Vamos criar cotas para todos esses segmentos então?

É fato que o Brasil é um país altamente miscigenado, o mais miscigenado do mundo. Dos senhores que tinham filhos com escravas, da mistura do europeu com o índio, da colonização italiana, alemã, japonesa. Difícil olhar alguém no exterior e já saber que é brasileiro, como acontece com os ruivinhos ingleses ou os loiros nórdicos. A não ser que a pessoa esteja sambando ou jogando lixo no chão... Da mesma forma, com exceção daqueles pretíssimos (e não leia isso com preconceito), não é fácil olhar alguém e constatar: é negro. E os mulatos? A Camila Pitanga é branca ou negra afinal? Aqueles irmãos gêmeos da UNB que tiveram pareceres diferentes da Universidade (um foi considerado negro e o outro não) são prova dessa dificuldade.

Essa miscigenação brasileira, na minha singela opinião, contribuiu e muito para diminuir o preconceito. Muita gente afirma que o que existe é um preconceito velado. Pode até ser, mas o simples fato dele ser velado já demonstra que não é visto pela sociedade em geral como uma boa coisa.

O que eu sei dessa questão toda é que eu sou sim a favor das cotas, mas das sociais. Acho que realmente há um déficit e que, se as coisas continuassem como estão, as classes C e D dificilmente entrariam na Universidade. Esperar que o governo melhore o ensino de base? É o correto, mas se esperaria até quando? Que se implante as cotas para dar a chance dessas pessoas competirem de igual para igual com aqueles mais afortunados.

Eu estudo em Universidade Federal e notei com clareza a diferença dos estudantes ali presentes antes e depois das cotas. Que eu lembrasse, havia uma só negra em toda a minha faculdade, hoje são vários. Pessoas de características mais simples, negras ou brancas, transitam por aqueles corredores onde antes, infelizmente, praticamente só os egressos de escolas particulares e de bons cursinhos tinham acesso. Poucas medidas seriam mais eficazes para combater a desigualdade.

Tentar fazer isso utilizando o conceito de RAÇA, entretanto, não me parece o correto e mais, me dá a impressão de ser algo ainda mais discriminatório, quando não inconstitucional. Compartilhando de opinião parecida vou colocar aqui dois textos completamente diferentes, mas igualmente brilhantes: um é uma parte do voto do Ministro do Supremo Gilmar Mendes acerca de um pedido de liminar que envolvia a questão das cotas raciais e o outro é do humorista Danilo Gentili, do CQC, sobre a questão racial em geral. Dois estilos completamente opostos, do “juridiquês” à piada pura e simples, mas ambos convergindo para um mesmo ponto: a fragilidade do conceito de raça e a impossibilidade de adoção de medidas com base neles. Se tiver paciência, tá aí:

1) A decisão de Gilmar Mendes (íntegra http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/noticiaNoticiaStfArquivo/anexo/ADPF186.pdf) :

Nunca é demais esclarecer que a ciência contemporânea, por meio de pesquisas genéticas, comprovou a inexistência de “raças” humanas. Os estudos do genoma humano comprovam a existência de uma única espécie dividida em bilhões de indivíduos únicos.
A noção de “raça”, que insiste em dividir e classificar os seres humanos em “categorias”, resulta de um processo político-social que, ao longo da história, originou o racismo, a discriminação e o preconceito segregacionista.
(…) é preciso enfatizar que, enquanto em muitos países o preconceito sempre foi uma questão étnica, no Brasil o problema vem associado a outros vários fatores, dentre os quais sobressai a posição ou o status cultural, social e econômico do indivíduo. Como já escrevia nos idos da década de 40 do século passado Caio Prado Júnior, célebre historiador brasileiro, “a classificação étnica do indivíduo se faz no Brasil muito mais pela sua posição social; e a raça, pelo menos nas classes superiores, é mais função daquela posição que dos caracteres somáticos.
Por mais que se questione a existência de uma “Democracia Racial” no Brasil, é fato que a sociedade brasileira vivenciou um processo de miscigenação singular. Nesse sentido, elucida Carlos Lessa que “O Brasil não tem cor. Tem todo um mosaico de combinações possíveis” (LESSA, Carlos. “O Brasil não é bicolor”, In: FRY, Peter e outros (org.) Divisões Perigosas: Políticas raciais no Brasil Contemporâneo. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007, p. 123).
(...)
Assim, somos levados a acreditar que a exclusão no acesso às universidades públicas é determinada pela condição financeira. Nesse ponto, parece não haver distinção entre “brancos” e “negros”, mas entre ricos e pobres. Como apontam alguns estudos, os pobres no Brasil têm todas as “cores” de pele. Dessa forma, não podemos deixar de nos perguntar quais serão as conseqüências das políticas de cotas raciais para a diminuição do preconceito. Será justo, aqui, tratar de forma desigual pessoas que se encontram em situações iguais, apenas em razão de suas características fenotípicas? E que medidas ajudarão na inclusão daqueles que não se autoclassificam como “negros”?
Com a ampla adoção de programas de cotas raciais, como ficará, do ponto de vista do direito à igualdade, a situação do “branco” pobre? A adoção do critério da renda não seria mais adequada para a democratização do acesso ao ensino superior no Brasil? Por outro lado, até que ponto podemos realmente afirmar que a discriminação pode ser reduzida a um fenômeno meramente econômico? Podemos questionar, ainda, até que ponto a existência de uma dívida histórica em relação a determinado segmento social justificaria o tratamento desigual.


2) Texto do Danilo Gentili (BLOG: http://danilogentili.zip.net/):

As pessoas que separam cachorros por raças fazem isso porque acreditam que uma raça vale mais que a outra. Eles acreditam mesmo nisso. Ganham dinheiro com isso. Movimentam um mercado. Dividir uma espécie por raças nada mais é do que racismo.

Sinceramente acredito que todo cachorro é cachorro e que toda pessoa é pessoa. E dentro disso não entendo como alguém que morde seu sapato, encoxa sua perna e caga no seu tapete pode ser considerado o melhor amigo do homem.

Se você me disser que é da raça negra preciso dizer que você também é racista, pois, assim como os criadores de cachorros, acredita que somos separados por raças. E se acredita nisso vai ter que confessar que uma raça é melhor ou pior que a outra. Pois se todas raças são iguais então a divisão por raça é estúpida e desnecessária. Pra que perder tempo separando algo se no fundo dá tudo no mesmo?

Quem propagou a idéia que "negro" é uma raça foram os escravistas. Eles usaram isso como desculpa para vender os pretos como escravos: "Podemos tratá-los como animais, afinal eles são de uma outra raça que não é a nossa. Eles são da raça negra". Então quando vejo um cara dizendo que tem orgulho em ser da raça negra eu juro que nem me passa pela cabeça chamá-lo de macaco. E sim de burro.

Falando em burro, cresci ouvindo que eu sou uma girafa. E também cresci chamando um dos meus melhores amigos de elefante. Já ouvi muita gente chamar loira caucasiana de burra, gay de viado e ruivo de salsicha, que nada mais é do que ser chamado de restos de porco e boi misturados.

Mas se alguém chama um preto de macaco é crucificado. E isso pra mim não faz sentido. Qual o preconceito com o macaco? Imagina no zoológico como o macaco não deve se sentir triste quando ouve os outros animais comentando:
- O macaco é o pior de todos. Quando um humano se xinga de burro ou elefante dão risada. Mas quando xingam de macaco vão presos. Ser macaco é uma coisa terrível. Graças a Deus não somos macacos.

Prefiro ser chamado de macaco do que de girafa. Peça para um cientista fazer um teste de Q.I. com uma girafa e com um macaco. Veja quem tira a maior nota.

Quando queremos muito ofender e atacar alguém, por motivos desconhecidos, não xingamos diretamente a pessoa e sim a mãe dela. Posso afirmar aqui então que Darwin foi o maior racista da história por dizer que eu vim do macaco?

Se o assunto é cor eu defendo a idéia que o mundo é uma caixa de lápis coloridos. Somos os lápis dessa caixa. Um lápis é menos lápis que o outro só porque a cor é diferente? Eu desenho desde criança, então acredite em mim: Não mesmo. Todas essas cores são de igual importância. Ok. Ok. Foi uma comparação idiota. Confesso. Os lápis são todos do mesmo tamanho na caixa. E no mundo real o lápis preto é bem maior que o amarelo.

Mas o que quero dizer é que na verdade não sei qual o problema em chamar um preto de preto. Esse é o nome da cor não é? Eu sou um ser humano da cor branca. O japonês da cor amarela. O índio da cor vermelha. O africano da cor preta. Se querem igualdade deveriam assumir o termo "preto" pois esse é o nome da cor. Não fica destoante isso: "Branco, Amarelo, Vermelho, Negro"?. O Darth Vader pra mim é negro. Mas o Bill Cosby, Richard Pryor e Eddie Murphy que inspiram meu trabalho não. Mas se gostam tanto assim do termo negro, ok, eu uso, não vejo problemas. No fim das contas é só uma palavra. E embora o dicionário seja um dos livros mais vendidos do mundo, penso que palavras não definem muitas coisas e sim atitudes.

Digo isso porque a patrulha do politicamente correto é tão imbecil e superficial que tenho absoluta certeza que serei censurado se um dia escutarem eu dizer: "E aí seu PRETO, senta aqui e toma uma comigo!". Porém, se eu usar o tom correto e a postura certa ao dizer "Desculpe meu querido, mas já que é um afro-descendente é melhor evitar sentar aqui. Mas eu arrumo uma outra mesa muito mais bonita pra você!" sei que receberei elogios dessas mesmas pessoas, afinal eu usei os termos politicamentes corretos e não a palavra "preto" ou "macaco", que são palavras tão horríveis.

Os politicamentes corretos acham que são como o Superman, o cara dotado de dons superiores, que vai defender os fracos, oprimidos e impotentes. E acredite. Isso é racismo, pois transmite a idéia de superioridade que essas pessoas sentem de si em relação aos seus "defendidos".

Agora peço que não sejam racistas comigo por favor. Nao é só porque eu sou branco que eu escravizei um preto. Eu juro que nunca fiz nada parecido com isso nem mesmo em pensamento. Não tenham esse preconceito comigo. Na verdade sou ítalo-descente. Italianos não escravizaram africanos no Brasil. Vieram pra cá e assim como os pretos trabalharam na lavoura. A diferença é que Escrava Isaura fez mais sucesso que Terra Nostra.

Ok. O que acabei de dizer foi uma piada de mal gosto porque eu não disse nela como os pretos sofreram mais que os italianos. Ok. Eu sei que os negros sofreram mais que qualquer raça no Brasil. Foram chicoteados. Torturados. Foi algo tão desumano que só um ser humano seria capaz de fazer igual. Brancos caçaram negros como animais. Mas também os compraram de outros negros. Sim. Ser dono de escravo nunca foi privilégio caucasiano e sim da sociedade dominante. Na África, uma tribo vencedora escravizava a outra e as vendia para os brancos sujos.

Lembra que eu disse que era ítalo-descendente? Então. Os italianos podem nunca terem escravizados os pretos, mas os romanos escravizaram os judeus. E eles já se vingaram de mim com juros e correção monetária, pois já fui escravo durante anos de um carnê das Casas Bahia.

Se é engraçado piada de gay e gordo, porque não é a de preto? Porque foram escravos no passado hoje são café-com-leite no mundo do humor? É isso? Eu posso fazer a piada com gay só porque seus ancestrais nunca foram escravos? Pense bem, talvez o gay na infância também tenha sofrido abusos de alguém mais velho com o chicote.

Se você acha que vai impor respeito me obrigando a usar o termo "negro" ou "afro-descendente", tudo bem, eu posso fazer isso só pra agradar. Na minha cabeça você será apenas preto e eu branco, da mesma raça, a raça humana. E você nunca me verá por aí com uma camiseta escrita "100% humano", pois não tenho orgulho nenhum de ser dessa raça que discute coisas idiotas de uma forma superficial e discrimina o próprio irmão.

OBS: Antes que diga "Não devemos fazer piadas com negros, nem com gordos, nem com gays, nem com ninguém" Te digo: "Pode colocar meu nome aí nas páginas brancas da sua lista negra, mas te acho chato pra caralho".

sábado, 1 de agosto de 2009

O jornalista papagaio

O jornalismo é uma profissão bastante abrangente. Os profissionais saem do curso preparados para trabalhar em diversas áreas, bastando apenas escolher a que lhes dá mais prazer. Seja fotografia, radio, texto impresso ou telejornal. Dentro disto, podem fazer inúmeras editorias e escolher um assunto que lhes agrade e sobre o qual entendam: cultura, esporte, previsão do tempo, política, economia, social. Enfim, são as mais variadas formas de se trabalhar com a informação e com o prazer. Mas a questão é justamente sobre isso. Fiquei o dia inteiro pensando no grau de imparcialidade que esses profissionais têm quanto a, de uma maneira ou de outra, expor a sua opinião numa matéria que teoricamente deveria ser apenas informativa. Afinal, existe ou não jornalismo 100% não opinativo?
A primeira lembrança que eu tive foi de três diferentes traduções que li da peça HAMLET de William Shakespeare. A primeira do Millôr Fernandes, depois da Bárbara Eleodora e por último de Lawrence Flores Pereira. Cada uma delas, embora tenham sido traduzidas do mesmo texto, passam sensações diferentes por causa das escolhas das palavras e por causa das cenas mais enfatizadas e valorizadas pelos tradutores que fazem escolhas de palavras, termos e rimas. Cada um deles interpreta esse texto de uma maneira diferente. E ao passar essa interpretação adiante, estão opinando. É assim que vejo todas as outras funções do jornalista. Como as crônicas, os editoriais e os artigos que são espaços abertos para a opinião clara de algum entendedor sobre determinado assunto, o jornalismo das matérias dos fatos do dia, das entrevistas, das fotografias, também é opinativo. Pois não há nenhum jornalista papagaio. Seria o jornalista ideal aquele que não interpreta o acontecido, mas sim, o repete exatamente como aconteceu? Como nas traduções, os criadores das matérias também fazem as suas escolhas de palavras, termos, rimas, figuras de linguagem, entonações, expressões faciais ou angulo de visão que revelam muito mais do que só o conteúdo abordado. A própria escolha das fontes entrevistadas, as perguntas feitas. São demais os fatores que impossibilitam a não opinião de um ser humano sobre a informação transmitida.
É importante que os receptores das mensagens saibam o que estão lendo. Saber do fato puro sem interpretações, pelo menos, quando a informação é vendida como tal ou saber de que lado está o jornalista. Depois de me deparar com este assunto por um dia inteiro, ouso dizer que, embora talvez devesse, o jornalista papagaio não existe. É como uma idéia muito boa, mas que, mesmo sem querer, é impossível que aconteça. O nosso papagaio é, portanto, uma figura utópica desta proposta de jornalismo.
É por isso que, para a importantíssima função de jornalista, é necessário, sim, passar quatro anos estudando prática e ética e adquirir com isso um diploma que o da direito a informar, seja como for.

sexta-feira, 31 de julho de 2009

A crise dos vinte e poucos anos...

Recebi um email de uma amiga com um texto que se chamava “a crise dos vinte e poucos anos”. Vinha com asteriscos, exclamações e entusiasmadas recomendações para todos lerem. Abri avidamente, já que o meu aniversário de 24 anos, comemorado há pouco, desencadeou, além da comemoração de sempre, uma séria crise de idade, punk mesmo, como eu nunca tinha tido.

Pois bem, tenho que dizer que a minha identificação é maior com o bigode do Sarney do que com aquele texto! Fora uma ou outra consideração acertada, a crise descrita ali em nada se parece com a minha. Me pareceu que o autor justifica a crise por ter ido ficando mais solitário com o tempo, ter ido percebendo que certos amigos não eram verdadeiros, ter se distanciado de outros tantos que gostava.

Já o ponto central da minha crise é justamente o contrário: eu acho os “vinte e poucos anos” a melhor fase da vida, disparado. Olha só: a adolescência é um barato, marcante. Cheia de novas descobertas, pouca preocupação, só escola e deu, o resto é festa. O problema é que nela ainda mora o controle mais extremo dos pais, a inconstância, os hormônios borbulhando, a busca constante por descobrir qual a nossa verdadeira personalidade, o que, diga-se de passagem, não é nada fácil. O fim de um namoro parece o fim da vida! A gente sente aquela obrigação de ser amigo de todo mundo, de ir em todas as festas, de usar as coisas da moda, de ir nos lugares onde todos vão. Saco. É a época dos nerds e dos populares, das gírias grudentas, da necessidade de falsificar a identidade para entrar em algum lugar decente, de muitas vezes fingir ser quem a gente não é. O corpo mudando, a personalidade se formando, decisões complicadas a tomar, pura pressão.

Já os vinte e poucos trazem uma maturidade na mistura certa com o que sobrou daquela inconsequência adolescente. No meu caso: já descobri o que quero fazer da vida, o que é um alívio e tanto. Não me obrigo a mais nada, só saio quando realmente estou afim e com quem estou afim. Sei perfeitamente que relacionamentos acabam, mas que inevitavelmente novos surgem. Já faz tempo que sei quem são meus amigos verdadeiros e com quem realmente posso contar e quais são puro “fazer social”, alguns companheiros de festa, outros somente colegas. Já vou onde quero, quando quero e na hora que quero, sem dar maiores explicações para ninguém. Trabalho e ganho meu dinheiro, mas ainda moro com a minha mãe, o que deixa a minha “pequena fortuna” reservada para ser gasta só naquilo que eu gosto: viagens, jantas, roupas. Já sei exatamente qual o meu estilo e o que me cai bem, não uso nada só porque tem muita gente usando. Aprendi a conhecer as minhas mudanças de humor e o que fazer para resolvê-las. Tem toda uma responsabilidade quando o assunto é trabalho/estudos (ninguém mais te cobra nota a essa altura da vida), mas alguma insensatez adolescente ainda é bem vinda. Acabou a fase de guerra com a família e de mau humor sem explicação, pai e mãe são amigos.

Depois dos vinte vem os trinta e é hora de estabilizar a vida, estar em um bom emprego, com alguém legal do lado, depois ter filhos e toda aquela “vida adulta” que a gente conhece. Nesse ponto já não dá mais pra “loquear”, viajar aos montes, gastar só comigo mesma. Isso, meu bem, só nos vinte.

Aí é que entra a minha crise: como essa é a idade do poder-fazer mas ainda sem o precisar-estabilizar, eu tenho MUITOS planos pros meus vinte e poucos anos. O problema que nos 24 ouvi a buzina ressoar: não vai dar tempo! Não vai dar tempo! Vá lá: eu preciso me formar; quero fazer mochilão pela Europa e passar um tempo em Nova York; queria fazer um pós em Paris ou na Espanha; queria morar sozinha em Porto Alegre, mas queria morar um tempo no Rio também; quero viajar pela costa brasileira de carro; preciso decidir se quero concurso ou advogar. Se o primeiro, preciso estudar e passar. Se o segundo, preciso me firmar em um bom escritório.

O cerne da crise é o seguinte: é uma fase intensa e que deve ser aproveitada, mas, como é a que mais decide as seguintes, traz ainda mais atividades à lista de afazeres. Isso, meus caros, é o que me apavora!

Porque se nos vinte eu quero fazer tudo isso e nos trinta eu quero estabilizar, ao longo desse monte de viagens e andanças eu preciso achar um bom emprego e um cara legal, para, lá adiante, acalmar com os dois. Eu quero loucurinhas, viagens legais, aproveitar, mas ao mesmo tempo eu preciso me preparar para uma carreira e uma vida. Não é fácil não.

Bom, mais de um mês depois do meu aniversário, vou dizer que o mar serenou, a crise passou e a tranqüilidade voltou a povoar a minha pessoa. Mas o estopim da crise e as idéias que a embasavam seguem na minha cabeça. Já daquele texto, a única coisa que eu guardei foi a “cervejinha que serve de desculpa para conversar um pouco”. É o que eu estou indo fazer agora...

(se quiser ler o texto mencionado: http://www.upalele.com/2008/06/17/crise-dos-20-e-poucos/)

terça-feira, 28 de julho de 2009

Humor, inteligência e mais daquela viagem.

“Senso de humor e inteligência” – parece ser a resposta padrão de toda famosa (ou almejante) ao ser interrogada sobre as características necessárias para se interessar por um homem.

Posso então parecer manjada, repetitiva, charlatona, mas tenho notado o quanto essas duas características efetivamente me atraem e fazem alguém que antes passava desapercebido me chamar – e muito! – a atenção. Para exemplificar, não vou nem falar da vida real, de pessoas que convivem comigo e que eu encontro no dia a dia, mas dos artistas mesmo, aqueles que aparecem na TV e que até o meu cachorro conhece.

Quando perguntam para qualquer mulher um artista que ela acha lindo, as respostas provavelmente não vão exalar muita criatividade: Pitt, Clooney, Santoro e por aí vai. Lindos, perfeitos, unanimidade.

Só que agora, com essa profusão de artistas invadindo a internet, com blogs, Twitter e assemelhados, eu tenho me pegado analisando um pouquinho mais a fundo: fulaninho escreve bem? Pelo menos pensa??

E quando a resposta é sim, pode escrever, meu radarzinho começa a apitar. A minha primeira paixãozinha-platônica-por-artistas-que-nunca-saberão-quem-eu-sou, em razão do que eles pensam e não da beleza, foi pelo Pedro Neschling. Conhecia ele de um ou outro trabalho na TV, lembro de ter sido um dos irmãos Sardinha, mas nunca achei nada demais. Comecei a ler o blog dele e plaft: inteligente, interessado por tudo que me interessa, tranquilão. Apaixonei.

Depois, notei que meu interesse pela inteligência aumentava quando ela vinha acompanhada de humor. Notei isso com o CQC - programa, na minha opinião, de humor inteligente. Comecei achando eles só engraçados, daí vem uma boa tirada daqui, uma piadinha inteligente dali e quando eu vi tava achando uns três dali ótimos, par ideal, marido perfeito! E olha que nenhum é muito bonito não... Outro dia, novo episódio confirmando a minha tendência recém-descoberta: o Marcelo Adnet, da MTV, foi dar uma entrevista no Jô. Indiscutivelmente a primeira impressão que o Adnet passa é de uma pessoa feia, meio esquisita, narigão, orelhão. Pois então: não precisou nem acabar o primeiro bloco do programa para eu estar achando ele O charme da vida!!!!

Já um bando de galãzinhos globais, rostinho perfeito, corpinho malhado, passam batido por mim quando eu entro no blog e não acho nada além de “tava iraaado”, “a novela ta maaaassa” e “beijããão galera”. Não que atração física não seja importante, mas que uma boa dose de inteligência e humor ajudam a fazer com que ela seja descoberta... aaah, como ajudam!

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E ainda no clima de depois daquelas férias...

Eu sei que uma viagem me marcou quando eu volto completamente nostálgica; quando basta uma breve menção ao lugar onde eu estive para que eu me encha de suspiros de saudades; quando eu quero profundamente voltar assim que possível.

Porque para mim existem dois tipos de viagens: (1) aquelas em que eu conheço lugares que, por mais maravilhosos que sejam, não me tocam profundamente e (2) aquelas em que eu conheço lugares que, maravilhosos ou não, me marcam demais.

No primeiro caso é assim: eu acho lindo, aproveito a viagem, percorro o lugar, tiro minhas fotos, mato as minhas curiosidades e pronto: é um lugar a mais conhecido, uma experiência nova. Voltar? Até pode ser, mas não faço questão, ante a possibilidade de desbravar novos horizontes... Já no segundo caso, sabe-se lá que sintonia acontece, se é o astral do lugar, as companhias da viagem, as pessoas que eu conheço lá, o acaso. Eu só sei que eu crio uma ligação imediata (mas que eu só vou percebendo com o tempo), uma afinidade absurda e parece que eu meio que “pertenço” àquele lugar também. Ao ir embora a vontade é ficar. Não sendo possível, a vontade é voltar. Voltando, a vontade é repetir de novo, e de novo, e de novo. Que delícia quando acontece isso!

Pouquíssimos lugares tiveram esse efeito sobre mim. Até agora Nova York, onde eu fiquei por meros 5 dias e já me sentia em casa, o Rio, lugar que eu já considero quase como uma segunda morada (sem base nenhuma para isso) e para onde eu sei que sempre vou voltar e agora Itacaré.

O engraçado é que eu noto que não tem um padrão para determinados lugares “fazerem a minha cabeça”: Nova York eu fui com a família, é o símbolo da urbanidade. O Rio não, já é uma mistura de vida urbana com praia, já fui com várias pessoas diferentes e sempre voltei suspirando de alegria. Itacaré, por fim, é roots total, praias mil, trilhas, reggae e forró.

Tudo que eu sei é que eu ainda quero conhecer muitos lugares, mas com certeza quero voltar para esses três. Muitas e muitas vezes.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Depois daquelas férias...


- Voltar de férias descansada, há quanto tempo que eu não conseguia essa proeza! Porque geralmente meus períodos de descanso só me cansam mais, é sempre aquela correria para ver tudo, fazer tudo, conhecer tudo. Agora não, tive tempo. Tempo de conhecer, ver, e ainda assim criar uma pequena rotina, aquelas rotinas deliciosas que só boas férias nos proporcionam. Conhecer gente. Abanar para elas na rua e me sentir em casa em um lugar onde nunca tinha estado antes. Tomar um café delicioso, colocar as Havaianas e o primeiro vestidinho leve que eu visse pela frente. O cheirinho gostoso de protetor solar. O almoço / janta com a cervejinha das seis da tarde. O sono sagrado até umas nove. O pife. A noite, sempre igual, mas sempre diferente. Os dias lindos e os coqueirais fazendo fila na minha frente. O mar, ah, o mar. O sotaque que não me largava. Os companheiros de viagem, melhor impossível. Difícil aterrissar na terra dos zero graus Celsius, dos dias mais frios em três anos, da volta ao trabalho e à rotina não tão deliciosa assim. Mas isso que é bom das férias: o gostinho de quero mais e começar a programar as próximas.

- Na minissérie “Som e Fúria”, da Globo, teve um diálogo que eu achei bem interessante. Assistindo a Romeu e Julieta, a personagem da Andrea Beltrão diz odiar ver aquela peça, porque sempre que vê se sente uma merda, já que aquele tipo de amor certamente nunca vai acontecer na vida real. Ela ainda complementa, dizendo que é uma peça que tem que obrigatoriamente ser encenada por jovens, para que eles acreditem pelo menos um pouco na história que estão contando. Daí o personagem do Felipe Camargo retruca: “eu acho uma peça extremamente realista. Dois jovens se apaixonam, são felizes por um curto espaço de tempo e depois dá merda. Como sempre acontece na vida”. Eu, nesse meu ceticismo incurável, não pude concordar mais. Com os dois.

- Tô louca para assistir o documentário sobre o Caetano, Coração Vagabundo. O trailer só fez aguçar a minha curiosidade sobre esse cara que, a cada entrevista que eu leio, me surpreende mais e mais pela inteligência, talento e humildade. Chegando aqui, to lá. Enquanto isso, dá um conferes: http://www.youtube.com/watch?v=uz8tUA-qMdk.

...pensamentos, teorias e devaneios...