No olho do furacão-morte-de-Amy e ao passar os olhos pelas milhares de reportagens a respeito que surgem de tudo que é canto, me peguei pensando sobre a dupla genialidade / dor - duas palavras que tantas vezes andam juntas, como ocorria com a Amy. E com outros tantos artistas no mais puro sentido da palavra. Quem me veio em mente? Obviamente, Caio Fernando Abreu e Clarice Lispector.
Já disse aqui algumas vezes o quanto eu sou apaixonada pelos dois. O que que não sei dizer é o que, nas duas obras, eu acho mais genial. Sei, entretanto, que certas peculiaridades que são comuns aos dois me atraem demais: a rebeldia entranhada, o espírito libertário, a busca constante, a racionalidade permeada da emoção mais insana. E tu vê: não seriam essas um pouco Winehouse também?
Analisando um pouco mais a fundo, penso que além de todas as características citadas, o que realmente me impressiona ao terminar de ler cada um dos textos do Caio e da Clarice é a profunda compreensão do mundo e do ser humano que eles tem. Uma compreensão doída, como toda espécie de lucidez, e de uma sensibilidade arrebatadora. Comentou o Caio, certa vez, sobre Clarice: “A primeira vez que conversamos eu chorei depois a noite inteira, porque ela inteirinha me doía, porque parecia se doer também, de tanta compreensão sangrada de tudo”. COMPREENSÃO SANGRADA DE TUDO. Não é lindo isso? E depois ainda cita outros artistas que também fizeram da solidão e da profunda compreensão a mola para atingir a genialidade: Joyce, Van Gogh, Kafka, Artaud, Rimbaud.
Talvez seja isso. Talvez não exista lucidez sem tristeza, compreensão sem melancolia, genialidade sem dor. Não sei, mas Clarice e Caio sabiam.
E acho que a Amy também.
segunda-feira, 25 de julho de 2011
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