Não sou muito de sonhar. Raramente lembro o que sonhei, e quando lembro, normalmente vêm imagens desconexas, desprovidas de sentido; penso nelas ao acordar, mas enquanto leio o jornal tomando café, já esqueci...
Nos últimos dias, isso mudou: à noite, meu cérebro tem produzido historinhas cheias de simbolismo, e eu tenho trocado as palavras cruzadas matinais pela decifragem do meu universo onírico, subitamente enriquecido!
Hoje mesmo, acordei me lembrando de tudo: eu passava um tempo em uma prainha bem primitiva, paradisíaca, com um grupo. Um sujeito desse grupo era um poço de arrogância, um desses urbanóides multiconectados e hiperconsumistas, que se sentia muito superior àquele lugar e às pessoas simples que viviam ali. Era um cara hostil, e atacava um local com deboches, xingamentos e bolinhos de areia (sim, bolinhos de areia, oras). O local, que não era bobo, revidou e saiu a tocar muita areia na nossa casa. Eu, que estava na varanda, fui praticamente soterrada, mas em vez de entrar na guerra de bolinhos, fui falar com o meu colega boçal, que a essas alturas estava bem alterado, com muitas facas nas mãos, os olhos arregalados, injetados de sangue, um horror. Eu falava e ele ia apontando facas pro meu pescoço, mas eu continuava falando, irreconhecivelmente diplomática. Meu discurso era bonitinho, politicamente correto, falava de respeito, das virtudes daquele lugar, daquelas pessoas, da simplicidade. Corta. Pula pra uma cena em que eu acordo, na mesma prainha. Agora já não é mais uma viagem, eu me tornei moradora. Na mesma cama, dormindo comigo, um ex-namorado com quem eu um dia fiz planos na linha de "um amor e uma cabana". Na vida real, esses planos e mais uma série de coisas me encheram de aflição e eu encerrei a história de uma hora pra outra. No sonho, eu paguei pra ver, e ali estávamos, nós e nossa cabana. E a mesma aflição de alguns anos atrás. É como se eu finalmente enxergasse o que poderia ter sido (coisa que muito especulei) e percebesse que não era aquilo que eu queria. O resto do sonho, basicamente, era eu chorando escondida em cenários de babar.
Abri os olhos e me pus a encaixar as peças: o seboso aquele? Era eu. Era meu lado roots, singelo, praiano, dialogando com o meu lado urbano, complexo, sofisticado e um tanto metido. Passei boa parte da minha vida pensando que teria que optar por uma margem do rio, e há pouco me convenci de que o legal é nadar livremente, e me deixar levar pela correnteza de vez em quando. É poder estar hoje no Rosa, de chinelo e biquíni, e amanhã em Londres, em uma cozinha estrelada, e achar as duas experiências igualmente deliciosas. Não à toa a conversa foi tranquila e positiva no sonho - no mundo concreto também imperou a harmonia, finalmente. A parte do meu amor do passado foi redentora: um aval sobre as escolhas que eu fiz. Não andava mais pensando nisso, mas alguma parte do meu subconsciente devia estar precisando desse "selo de garantia".
Esse foi só mais um de uma série de sonhos curiosos que eu ando tendo. No divã, ouvi que era característico dessa fase de finalização do tratamento (sim, estou a um passo da alta, e não é só porque eu vou me mudar pro outro lado do oceano!) sonhar, e nos sonhos ver muitas das conclusões às quais nós chegamos nos últimos anos. Faz sentido.
Também se compreende essa minha sanha interpretativa em dias de casa vazia e nostalgia à flor da pele. Tudo remete à partida, ao porvir, às memórias... Tudo isso é muito bom. Até chorar de saudades - reais ou antecipadas - é maravilhoso. É vida! Cada vez mais bonita.
quinta-feira, 14 de janeiro de 2010
segunda-feira, 11 de janeiro de 2010
2010
Comecei 2010 enjoada de Coca Light e sem muita vontade de comer uva. Só isso já era razão para eu começar a me questionar, e para quem me conhece, pensar seriamente se era caso de me internar. Um pouquinho antes de adentrar o novo ano, decidi trocar a loucurada usual com as amigas em Santa por um agradável e há tempos não compartilhado festejo em família, no singelo litoral gaúcho. Eram quase duas da madrugada quando eu me dei conta que estava de pijamas, tomando chá e conversando com minha vó, ao invés de estar no auge da alcoolização com qualquer pessoa que compartilhasse do meu estado e entendesse a minha língua enrolada, como de praxe acontece naquela data. Hospício para mim, devem pensar, fato. Já usei muita calcinha vermelha e rosa nas minhas viradas de ano, pedindo paixão e amor. Algumas vezes usei amarela, tentando fazer rolar um up grade na minha conta bancária. Esse ano, para espanto geral, tasquei uma simples calcinha branca para pedir, pasmem... paz. Pura e simples, três letrinhas, p-a-z. Tudo que eu quero nesse ano que se inicia é paz – e que ela se encarregue de trazer o resto (ou de me conformar por não tê-lo). Conforme os dias do ano novo foram passando, fui notando a minha introspecção, vontade de ler muito, muita fome de informação e pouca disposição para exageros em geral. Sede de tranqüilidade, mar, sombra e água fresca – e por água, pode se entender uma cervejinha também, que ninguém é de ferro. Se 2009 foi ano de pique total – e foi sen-sas-cio-nal – em 2010, sem planejar e nem saber porque, eu reduzi a marcha, e ando numa tranqüilidade gostosa, que eu não consigo prever quando vai passar. Vai passar, não tenho dúvidas, é o velho lance das fases que eu tanto comento. Mas enquanto isso eu vou aproveitando para pôr a minha leitura em dia, a minha saúde em pé e a minha mente em sintonia. Como diria o meu pai, parafraseando algum cantor que eu não lembro bem agora:
“Tudo é uma questão de manter
A mente certa
A espinha ereta
E o coração tranqüilo”
É isso que eu desejo para mim em 2010. Não se preocupem, acho que ainda não é caso de internação.
sexta-feira, 8 de janeiro de 2010
Lidos
Mais uma vez, estou órfã!
É a impressão que eu tenho toda vez que termino um livro que eu gostei demais. É quase como a sensação de fim de romance, bate aquele vazio, uma mistura entre a tristeza de ter perdido um “companheiro” com o prazer que aquilo me proporcionou até então.
Dessa vez foi com o “Pra sempre teu, Caio F.”, da Paula Dip. Espécie de biografia do Caio Fernando Abreu, escritor que eu a-m-o e passei a admirar mais ainda. Tenho diversas coisas para comentar desse livro, sensações, conclusões, impressões. Sobre o texto do Caio e sobre a vida dele, personalidade. E sobre como ambos se unem. Sobre o gosto por escrever acima de qualquer coisa. Sobre cartas. Sobre as reações das pessoas na iminência da morte.
Na noite que terminei o livro eu nem dormi direito, a cabeça não parava de funcionar, sonhei a noite inteira com aquilo tudo. Fiz dezenas de textos mentais sobre ele para postar aqui enquanto tentava dormir. Obviamente não lembro mais de nenhum. De qualquer jeito, é verão em Porto Alegre, férias da faculdade e fim de semana de viagem, os mil comentários vão ter que ficar para depois. Acaba que o post é só de dica mesmo, afinal, nada como um bom livro à beira-mar!
Eu, enquanto isso, catei um outro livro para começar agora, mas parece que nunca vai ser a mesma coisa, que ele não vai suprir nem acrescentar coisas em mim como o outro fez. A comparação, nesses casos, é inevitável. Como eu disse, praticamente um fim de romance.
É a impressão que eu tenho toda vez que termino um livro que eu gostei demais. É quase como a sensação de fim de romance, bate aquele vazio, uma mistura entre a tristeza de ter perdido um “companheiro” com o prazer que aquilo me proporcionou até então.
Dessa vez foi com o “Pra sempre teu, Caio F.”, da Paula Dip. Espécie de biografia do Caio Fernando Abreu, escritor que eu a-m-o e passei a admirar mais ainda. Tenho diversas coisas para comentar desse livro, sensações, conclusões, impressões. Sobre o texto do Caio e sobre a vida dele, personalidade. E sobre como ambos se unem. Sobre o gosto por escrever acima de qualquer coisa. Sobre cartas. Sobre as reações das pessoas na iminência da morte.
Na noite que terminei o livro eu nem dormi direito, a cabeça não parava de funcionar, sonhei a noite inteira com aquilo tudo. Fiz dezenas de textos mentais sobre ele para postar aqui enquanto tentava dormir. Obviamente não lembro mais de nenhum. De qualquer jeito, é verão em Porto Alegre, férias da faculdade e fim de semana de viagem, os mil comentários vão ter que ficar para depois. Acaba que o post é só de dica mesmo, afinal, nada como um bom livro à beira-mar!
Eu, enquanto isso, catei um outro livro para começar agora, mas parece que nunca vai ser a mesma coisa, que ele não vai suprir nem acrescentar coisas em mim como o outro fez. A comparação, nesses casos, é inevitável. Como eu disse, praticamente um fim de romance.
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