segunda-feira, 4 de abril de 2011

Ode às Marias


E veio o BBB11 e foi chato. Sempre me assumi viciada naquela suposta babaquice fútil, mas esse tava ruim de acompanhar, criar expectativas e ficar na torcida de alguém. E quando eu achei que finalmente ia chegar um Big Brother que não servisse de jeito nenhum para acrescentar mais um pouco de filosofia barata para as minhas teorias, veio a final. E nela falou o “poeta” Bial:

“Até que chega uma mulher que esfrega na cara das mulheres tudo que elas detestam ser, ter sido ou vir a ser de novo por alguma circunstância”.

Opa! Bateu.

Mulherada reunida na minha casa e, mesmo sem nenhuma ter acompanhado muito, a torcida era unânime: Maria! O gay da vez era divertidíssimo, o doutor era muso e educado, mas a Maria era... era a gente. Falava merda, se perdia, se embebedava, corria atrás de um cara que cagava e andava para ela. E ela nem aí, ou muitas vezes MUITO aí, jurava que não ia fazer mais nada, mas daqui a pouco lá ia ela e fazia. Umas mais, outras menos, mas convenhamos: todas já foram um pouco Maria um dia.

A questão toda era se o público ia concordar com aquele choque de realidade feminina esfregado na cara. Hipocrisia, já ouviram falar? Fácil julgar, difícil às vezes é se controlar. Ressaca moral, oi? Discussão recorrente entre a mulherada é esse machismo que segue vigente – e que pelo jeito persistirá por muito tempo - dos pré julgamentos em relação as mulheres. A “puta”, a “vagaba”, a “humilhada”. O homem não, sempre vai ser o “pegador”, o “safado” (por incrível que pareça, no bom sentido) e, em últimíssimo caso, o “coitadinho”. E isso não parte só deles não, quantas vezes a gente não se pega destilando exatamente esse veneno em relação a outras mulheres, muitas que a gente mal conhece?

Por isso que, do alto das minhas teorias sociológicas, me parecia que o público não ia aliviar muito para o lado da Maria. Ficou com um, caiu em cima do outro da forma mais vazada possível, resolveu que queria mesmo era o primeiro, deu uma mentidinha básica e rastejou atrás dele até não poder mais. Rolava um papo de um tal vídeo dela na internet um tanto promíscuo, ou que ela já tinha encarnado a Bruna Surfistinha uma vez ou outra e a partir daí as fofocas eram só ladeira abaixo. Até onde isso era verdade eu não investiguei, mas o que me parecia era que, aos olhos do público, o pensamento seria que onde há fumaça, há fogo, e onde há fogo, meus amigos - quanto mais aquele fogo descarado que ela destilava pela casa! - coisa boa não podia dar.

Não que eu não achasse que ela tinha a simpatia do público, pelo contrário: as Marias sempre tem. Geralmente elas são as mais divertidas, as que tem mais história para contar, as melhores companhias. O problema é que na hora do pega-pra-capar, lá vão os reis da hipocrisia escolher as “Adrianas”. Aquelas mesmo, da citação do Bial que morrem de medo de assumir já terem sido Marias uma vez ou outra. Bonitinhas, pseudo-santinhas, mas... chatas. Saqualé? Do tipo que toma álcool duas vezes por ano, uma taça de champagne no natal e outra no réveillon, e para quem os piores inimigos na vida são o carboidrato e a gordura trans. Blagh!

Nunca me esqueci um “conselho” que eu ouvi certa feita: “na hora de escolher com quem se vai casar, escolha alguém com quem goste de conversar. Porque paixão é bom, dinheiro é bom, status e beleza melhor ainda. Mas no fim, lá no final mesmo, a conversa vai ser tudo o que o casal vai ter”. O alto índice de divórcios que se vê por aí deve em muito ser resultado da falta de atenção a este preceito. Porque os homens acabam grudando o estigma de “just for fun” nas Marias da vida e não percebem que, no fim, o “fun” é que devia ser o objetivo. Com cada vez mais gente mala no mundo, achar alguém com quem se consiga realmente rir é um presente.

Pois não é que dessa vez a hipocrisia usual deu lugar para a identificação (que seja para a compaixão!) e a maioria votou para ela ganhar o programa? Bela surpresa. Bom saber que tem gente no mundo querendo ver as Marias se darem bem, simpatizando e jogando a ignorância de lado para reconhecer que no fim de tudo, como disse o Bial, “JOGAR BEM É SE JOGAR”. Ô!

...pensamentos, teorias e devaneios...