quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Clichê bom

Textinho meio óbvio, desses que recebemos por email, mas nem por isso menos verdadeiro. Daqueles clichês que todo fim de ano pede:

É difícil não sentir esperança. A vida parece ter sido feita para isso. Em vez de um tempo contínuo e inacabável, dentro do qual a nossa existência teria o ritmo dos bichos, habitamos um tempo fragmentado, dividido, que se encerra e recomeça por ciclos – de uma hora, de um dia, de um ano. Esses períodos definem a nossa existência e ajudam a dar sentido a ela. Eles fomentam a esperança.

Lembro de uma conversa, já antiga, em que alguém me explicava, do fundo de uma grande tristeza, o alento que recebia de cada manhã. “Hoje”, ela me disse, “eu posso ser totalmente diferente do que fui ontem, mudar a minha vida, mudar eu mesma e começar do zero. Cada novo dia me apresenta a possibilidade de ser outra pessoa e deixar a dor para trás.” Essa não é uma definição soberba de estar vivo? Andamos tão presos ao passado que ignoramos a possibilidade de mudança embutida no futuro. Começar de novo é a maior delas – para todos nós.

Houve um tempo, quando criança, em que eu costumava me imaginar um homem feito. Teria 25 ou 30 anos, seria veterinário ou agrônomo, seria casado com uma mulher com cabelos de índia e olhos de jabuticaba e viveria, com ela e três filhos, numa casinha rural rodeada de colinas, com cerca de madeira e chaminé, como as crianças costumam desenhar. Nesse cenário idílico, que nunca se materializou, eu seria feliz, destemido e generoso, como os heróis dos livros. Sobretudo, eu estaria pronto, teria me tornado um adulto perfeito – e os adultos, toda criança sabe, não têm medos ou dúvidas.

Os anos se passaram e, a cada 12 meses, a criança que eu era se confronta com o adulto que eu sou. A conversa nem sempre é tranquila, mas é fundamental que ela aconteça. O cara que eu me tornei deve satisfações à criança que eu fui. Tem de lidar com os sonhos dela e com as ilusões que ela engendrava sobre o futuro. O homem tem de contar para o menino que as coisas não são como ele sonhava, que a gente não faz a vida exatamente como quer, mas que, nem por isso, deixamos de ser dignos e bons. É importante que a criança dentro de nós saiba, também, que nunca estamos realmente prontos, nunca crescemos inteiramente, e que as nossas dores – e essa é a pior parte da conversa – não somem quando ficamos adultos. Seguem conosco, mesmo não sendo parte de nós. São como espinhos na nossa carne, e é preciso arrancá-los. Existe, afinal, a esperança de viver sem eles no ano que vem, na semana que vem, amanhã.

A moça com cabelos de índia e olhos de jabuticaba tomou outras formas ao longo do tempo. Foi loira, teve olhos castanhos, cabelos crespos. Mas, em cada mulher real, havia algo da Eva infantil, primordial, que eu procurava como se fosse uma resposta absoluta. Aí há outra complexidade que o menino não previra. Parece não haver uma mulher na nossa história, mas várias. Parece não haver uma única resposta, uma única possibilidade. Também nesse terreno (o do amor), podemos tentar, recomeçar, sonhar, sofrer – ter alegrias e surpresas, enormes.

Então, eu penso, que venha o Ano Novo.

Que venham os velhos e novos amigos. Que o amor encontre o seu lugar na nossa vida e que saibamos reconhecê-lo, preservá-lo ou deixá-lo morrer, quando for preciso. Que o ano nos traga coragem para fazer coisas novas, coragem também para lidar com as coisas antigas que deixamos de lado. Que neste ano a gente se encontre – uns aos outros e a nós mesmos – de um jeito que produza mudança e transformação. Sem auto-indulgência, sem auto-piedade, sem mi-mi-mi. Que 2012 venha para alegrar a criança que fomos e nos ajudar a ser os adultos que merecemos ser – no novo ano, na próxima semana, no dia que vem por aí.

Ivan Martins

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Cinco mile.


Quase 5.000 visualizações desta tentativa de blog. Pouco, comparada com os bam-bam-bãs da web. Muito para quem se limita a falar de vez em quando sobre uma ou duas coisas que passam pela cabeça.

domingo, 20 de novembro de 2011

Growing up




Chegou. Acho que chegou. Chegou a hora em que eu olho para trás e constato, inequivocamente, que estamos crescendo. Meio tarde, posso antever alguns pensando. Não é bem assim.

Até pouco tempo atrás era assunto comum na minha roda de amigas como nós, com vinte e poucos anos, ainda não éramos tão diferentes daquelas gurizainhas de dezessete, que se encontravam nos mesmos bares e falavam praticamente sobre as mesmas coisas. À exceção de um pouco mais de responsabilidade, um trabalho para comparecer e algumas experiências a mais, acho que realmente não éramos tão diferentes assim. Não éramos.

2011 talvez seja o ano mais marcante do início da minha vida adulta. Minha e das minhas amigas mais próximas (que acaba sendo uma extensão da minha). Estive tão absorta nas milhões de coisas que eu tinha para fazer ao longo deste ano que mal reparei - ou notei, mas não dei tanta atenção assim - nas inúmeras mudanças que, pouco a pouco, foram acontecendo na minha volta. E em mim mesma. Para além de casamentos, novos apartamentos, uma gravidez, mudanças de cidade e até de país, evidências óbivas da chegada à tão falada maturidade, o que salta aos olhos mesmo é o nascer de problemas e preocupações muito maiores do que a roupa da próxima festa ou o telefone que não toca. Ah, futuro, que grande ponto de interrogação irritante tu és! Aparentes pequenas mudanças na personalidade que, do correto ponto de vista, não são tão insignificantes assim. O interessante é que isso não quer dizer que a mudança seja ruim, pelo contrário: junto com os problemas mais intrincados vem uma maior segurança sobre como lidar com eles e uma consciência agora formada sobre com quem podemos contar nesse caminho. Bom, né? E melhor ainda é observar que, a despeito de todo esse "crescimento", quando junta todas essas "velhas novas meninas" naquela mesma mesa de bar dos dezessete e dos vinte e dois, o divertimento e o nível de besteiras e risadas continuam exatamente os mesmos e, muitas vezes, o assunto final acaba sendo qual roupa usaremos no final de semana ou porque a porra do telefone não toca!

Crescer é inevitável, amadurecer necessário, mas enquanto a gente continuar sabendo rir de nós mesmas, eu estarei tranquila.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

domingo, 9 de outubro de 2011

" "

Ando lendo um livro de crônicas do Miguel Fallabella. Estranho, eu sei, mas caiu nas minhas mãos, comecei e gostei. E não só gostei do livro, como passei a gostar mais do Miguel depois de lê-lo. Maitê Proença, mesma coisa: passou, no meu conceito, de uma futilóide global para alguém, digamos assim, admirável. Quando? Depois que li o livro em que ela conta a história da (nada fácil) vida dela, com um belo texto, mesclando real e imaginário. Não adianta, inteligência e cultura me seduzem demais. Conteúdo, mesmo no meio da futilidade geral diária dos veículos de massa (e talvez por isso!), salta aos olhos. A pessoa fala três frases e já me dá um clique: "opa, quero ouvir mais"! Por isso que eu paro de zapear na hora em que me deparo com algum programa/entrevista/texto com Caetano Veloso, Luis Fernando Veríssimo, Pedro Bial, Zeca Camargo, Alex Atala, Marília Gabriela, Woody Allen, Fernanda Young, Chico Buarque, Jô Soares, Marina Person, Cláudia Laitano, Fernando Meirelles, Fernanda Torres, Fernando Henrique Cardoso, Wagner Moura, Steve Jobs, Natalie Portman. Pop, sim, mas com algum conteúdo.

Acho que uma das minhas maiores aspirações é saber. Já ter lido, já ter visto, poder opinar sobre. Uma frase do João Paulo Paes resume o que eu quero ter: cultura.

"Cultura é tudo aquilo de que a gente se lembra após ter esquecido o que leu. Revela-se no modo de falar, de sentar-se, de comer, de ler um texto, de olhar o mundo. Cultura não é aquilo que entra pelos olhos, é o que modifica o seu olhar".

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Se...

Transições, transições. Quem disse que era fácil? Tem que ouvir Pato Fu e manter a mente quieta, a espinha ereta e o coração tranquilo, atender o Axl Rose quando me sussurra "woman, take it slow, and it'll work itself fine... all we need is just a little patience". Ler um pouco de Fernando Pessoa suplicando por qualquer música que tire da alma essa incerteza que quer qualquer impossível calma ou de Clarice Lispector, que menciona que a impaciência dela chega a ser tão grande que às vezes dói. Por fim, encontrar em um poeminha-quase-auto-ajuda de Kipling a tônica da minha sexta à noite. Voila:


Se...

Se és capaz de manter o senso e a calma
Quando os demais os perdem e dizem que os perdeste,

Se és capaz de confiar em ti quando de ti duvidem
E no entanto perdoares que duvidem,

Se és capaz de esperar sem perder a esperança
E de não caluniar os que te caluniem,

Se és capaz de, odiando, enternecer-te
E sem julgar que és sábio ou exemplo de bons,

Se és capaz de sonhar sem que o sonho te empolgue
E pensar sem que o pensar chegue ao vazio,

Se és capaz de passar por sucesso e fracasso
Sem muito distinguir entre os dois impostores,

Se és capaz de escutar o que afirmas de certo
Alterado por vis para enganar os tolos,

Se és capaz de ver perdido um alvo de tua vida
E seguir atrás dele com a força que sobrar,

Se és capaz de arriscar os teus haveres
Na audácia de um lance e sorrindo ao que ocorra,
E perder, e começar a batalhar de novo
Sem que ouça um suspiro quem esteja ao teu lado,

Se és capaz de exigir da carne combalida
Que prossiga avançando, ainda que aos tropeços,
E vá te sustentando quando já nada reste,
A não ser a vontade que te diz: continua,

Se és capaz de falar aos comuns e ser digno
Ou de andar com reis permanecendo o mesmo,

Se não pode desviar-te inimigo ou amigo
Nem se decepcione o que conte contigo,

Se podes preencher com uma tarefa certa
Os sessenta segundos de um minuto,

Se assim fores, meu filho, a Terra te pertence,
Tudo o que nela existe será teu,
Não receies que o tomem,
Porque acima da Terra, então, serás um homem.

(Rudyard Kipling)

domingo, 11 de setembro de 2011




Um domingo de sol, coroando o desenrolar das coisas. Um brinde ao que há por vir, outro ao que vem sendo conquistado. Ansiedade de lado, equilíbrio ampliado. Como diria Fernando Pessoa, "há metafísica bastante em não pensar em nada".

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Insustentável




Eis que eu estava lendo "A insustentável leveza do ser" e me deparo com essa passagem:

"A jovem falava da tempestade, o rosto banhado de um sorriso sonhador, e ele a olhava pasmo e quase envergonhado: ela vivera uma coisa bonita e ele não a vivera com ela. A reção dicotômica da memória dos dois à tempestade exprimia toda a diferença que pode haver entre o amor e o não-amor.
Por não-amor, não quero dizer que Tomas tenha se comportado com cinismo em relação a essa moça, que tenha visto nela, como se diz, somente um objeto sexual: ao contrário, gostava dela como amiga, apreciava seu caráter e inteligência, estava sempre pronto a ajudá-la quando precisasse. Não era ele que se comportava mal em relação a ela; era a sua memória que, independente da vontade, excluíra-a da esfera do amor.
Parece que existe no cerébro uma zona específica, que poderíamos chamar de memória poética e que registra o que nos encantou, o que nos comoveu, o que dá beleza à nossa vida. (...) Não havia lugar para ela na memória poética de Tomas. Só havia lugar para ela no tapete
".

PORRA, MILAN KUNDERA!

sábado, 13 de agosto de 2011

Conecting the dots

Não se pode dizer que o último ano de faculdade é uma coisa tranquila na vida de uma pessoa. Não só objetivamente, em relação a quantidade de coisas por fazer, mas também no aspecto subjetivo, na cabeça fervilhante de inquietações e ansiedade em relação ao futuro próximo. O que fazer, por onde seguir, será que vai dar certo, terei estudado o suficiente, vou ganhar dinheiro ou não, será que sou qualificada, qual o próximo passo, entre milhares de outros questionamentos que pipocam na nossa cabeça aleatoriamente, aparecendo do nada às dez da manhã de um sábado qualquer. Não há zen-budismo que aplaque o desequilíbrio desse milhão de dúvidas.

De qualquer forma, indo além dessa ansiedade latente, eu ainda consigo enxergar em mim, bem lá no fundo, alguma coisa parecida com tranquilidade, uma espécie de certeza de que a vida se encaminha de nos mostrar o caminho a seguir. Se eu pensar, saí do colégio nove anos atrás com a mais completa certeza de que em cinco eu seria uma arquiteta. Fiz, não gostei, e sem maiores dilemas morais fui procurar o que realmente me agradava, até então sem sequer cogitar a possibilidade de fazer Direito. Flertei com a Comunicação em um semestre de Cinema, fui dar uma banda por outro continente e enquanto isso continuava elaborando o que realmente me satisfaria profissionalmente. Lembro das associações mentais que eu fiz enquanto buscava entender o que realmente me agradava e posso dizer que, muito embora tenha sido um período de profunda racionalidade, acho que eu não entrei no Direito com completa certeza de que era aquilo que eu queria. E assim, meio tateando no escuro, me achei. Olhando para trás hoje, parece até meio estúpido eu não ter me dado conta antes do quanto tenho a ver com Direito. Por caminhos tortos, cheguei exatamente onde eu, mesmo sem saber, queria estar. Obrigada, escolhas erradas.

Stanford, 2005. Steve Jobs discursa para uma turma de formandos. Basicamente conta três histórias: fala sobre perda e morte e sobre como após as experiências podemos ligar os pontos e perceber como os tropeços nos fazem de alguma maneira chegar lá. "Connecting the dots". Não temos como fazer isso antes, mas lá no futuro, olhando para trás, podemos facilmente perceber como é fator determinante para alcançar o resultado esperado a experiência dolorosa. Ele cita o momento em que largou a faculdade e a sua demissão da Apple, a empresa que ele próprio havia criado, como as experiências mais devastadoras que teve e, ao mesmo tempo, as melhores coisas que podiam ter lhe acontecido. "Awful tasting medicine, but I guess the patient needed it". E segue Jobs:

"Sometimes life hits you in the head with a brick. Don't lose faith. I'm convinced that the only thing that kept me going was that I loved what I did. You've got to find what you love. And that is as true for your work as it is for your lovers. Your work is going to fill a large part of your life, and the only way to be truly satisfied is to do what you believe is great work. And the only way to do great work is to love what you do. If you haven't found it yet, keep looking. Don't settle. As with all matters of the heart, you'll know when you find it. And, like any great relationship, it just gets better and better as the years roll on. So keep looking until you find it. Don't settle.

Your time is limited, so don't waste it living someone else's life. Don't be trapped by dogma — which is living with the results of other people's thinking. Don't let the noise of others' opinions drown out your own inner voice. And most important, have the courage to follow your heart and intuition. They somehow already know what you truly want to become. Everything else is secondary
".

Porto Alegre, 2011. Palestra com os estagiários do escritório onde eu trabalho pelo CEO da firma, outro exemplo de pessoa brilhante que nos mostra que ninguém chega lá à toa. Dentre os conselhos para o futuro, um crucial: "mantenham-se sempre com um friozinho no estômago. Enquanto vocês tiverem esse friozinho, é sinal que estão indo pelo caminho certo. Não se acomodem". Voltando ao discurso do Jobs, seu fim é com a citação de uma frase de despedida de um periódico dos anos 70, como conselho para os recém formados e um exemplo do que ele próprio busca constantemente:

"Stay hungry. Stay foolish".

Não posso prever o futuro e não tenho como fugir do medo natural dessa época da vida, mas de um simples discurso de formatura e de uma palestra de fim de tarde no trabalho consigo ver que, por mais aterrorizante que seja essa fase, lá no futuro eu vou ligar os pontos e ver que intuitivamente eu segui o caminho certo. Eu faço o que gosto. Acredito na minha intuição. E o friozinho no estômago está aqui, graças a Deus.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Caio, Clarice e Amy.

No olho do furacão-morte-de-Amy e ao passar os olhos pelas milhares de reportagens a respeito que surgem de tudo que é canto, me peguei pensando sobre a dupla genialidade / dor - duas palavras que tantas vezes andam juntas, como ocorria com a Amy. E com outros tantos artistas no mais puro sentido da palavra. Quem me veio em mente? Obviamente, Caio Fernando Abreu e Clarice Lispector.

Já disse aqui algumas vezes o quanto eu sou apaixonada pelos dois. O que que não sei dizer é o que, nas duas obras, eu acho mais genial. Sei, entretanto, que certas peculiaridades que são comuns aos dois me atraem demais: a rebeldia entranhada, o espírito libertário, a busca constante, a racionalidade permeada da emoção mais insana. E tu vê: não seriam essas um pouco Winehouse também?

Analisando um pouco mais a fundo, penso que além de todas as características citadas, o que realmente me impressiona ao terminar de ler cada um dos textos do Caio e da Clarice é a profunda compreensão do mundo e do ser humano que eles tem. Uma compreensão doída, como toda espécie de lucidez, e de uma sensibilidade arrebatadora. Comentou o Caio, certa vez, sobre Clarice: “A primeira vez que conversamos eu chorei depois a noite inteira, porque ela inteirinha me doía, porque parecia se doer também, de tanta compreensão sangrada de tudo”. COMPREENSÃO SANGRADA DE TUDO. Não é lindo isso? E depois ainda cita outros artistas que também fizeram da solidão e da profunda compreensão a mola para atingir a genialidade: Joyce, Van Gogh, Kafka, Artaud, Rimbaud.

Talvez seja isso. Talvez não exista lucidez sem tristeza, compreensão sem melancolia, genialidade sem dor. Não sei, mas Clarice e Caio sabiam.

E acho que a Amy também.

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Diquinhas invernais

Friaca braba, hein? Deve ser por ela que eu ingressei numa forte fase caseira, de filmes, livros, revistas, filmes, livros, revistas. Como eu sei que não é só sobre mim que o invernão tem esse efeito, deixo a dica das últimas coisas que andei vendo / lendo / descobrindo.

NO CINEMA: Meia noite em Paris



Mais uma delícia de filme do Woody Allen. Com o humor irônico recorrente em toda (ou grande maioria) da cinegrafia woodyana, mas seguindo a tônica dessa sua fase européia: a história transpira o cenário. O filme em Londres foi sombrio, em Barcelona quente e em Paris... ah, em Paris veio impregnado de nostalgia e de um saudosismo lírico cujo cenário não podia ser outro. De brinde, um recheio de referências históricas/culturais maravilhosas e uma panorâmica inicial de Paris à la "Manhattan". Vontade de sair do cinema direto para a cidade luz. A de hoje ou a de alguns (ou muitos) anos atrás.

NA LOCADORA: O primeiro que disse



Filme franco-italiano di-ver-ti-dís-si-mo. Para fugir um pouco das bobalhadas das comédias americanas repetitivas e previsíveis e se deliciar com algumas agruras de uma típica (ou não tanto) família italiana!

NO CRIADO-MUDO: Um dia



Terminei de ler em dois. Livro fofíssimo, que conta a história de um casal, desde seu primeiro "encontro", no dia 15 de julho de 1988, em todos (e apenas) os dias 15 de julho dos 20 anos seguintes. Além da história entre os dois ser deliciosa, ainda retrata de forma absolutamente delicada a forma como vamos mudando(ou não) com o passar do tempo. Vai virar filme com a Anne Hathaway (que me parece perfeita para o papel!) e o carinha que fez "Across the Universe". Vale a pena ler antes de ver.


NO NOTEBOOK: Todo dia um look

Para aqueles (aquelas, devo dizer) que, como eu, sempre que podem bisbilhotam blogs de moda, street style e looks diários das it girls around the world. Quem acompanha essa montanha de sites fashionistas que tomaram conta da rede sabe que às vezes chegamos a ficar tontas tamanha a quantidade de conteúdo disponível, o que faz com que muitas vezes acabe repetitivo. Pois bem. Para dar uma espairecida e algumas risadas sem escapar completamente desse universo, dá uma olhadita no "todo dia um look". Três guris para lá de bem-humorados fizeram um site-paródia desse universo paralelo da web simplesmente sen-sa-cio-nal. Utilizando aquele vocabulário único, peculiar e próprio dos sites trend (talvez podemos chamá-lo de "Voguiano" ou algo do tipo), eles seguem no mesmo ritmo, mesclando expressões em inglês, com palavrinhas-chave como o multifuncional "it" (it-bag, it-girl, it-shoe) e outras, como must have, look, outfit e por aí vai com descrições hilárias das roupitchas usadas em cada ocasião. Como exeplo, no post "Look rastafari de apartamento", vem a seguinte descrição do visú:

"Camiseta color blocking da reguêra com o sempre t-shirtable Godfather do Reggae (constantemente visto em estampas de mash-ups com leões), baggy pants, sunglasses pra esconder os red-eyes (conjuntivite tá super usando) no almoço da Vó Mirtes e essa touca que vai fazer com que você arrependa de cada segundo desperdiçado com bobagens na sua adolescência são o outfit perfeito pra dançar o Catch a Fire inteiro, bolar um bem prensado no parquinho da vizinhança e levar um atraque delicioso da PM (ou da Vó Mirtes, whatever)".

Para dar uma desopilada do circuito fashion, adentrar o mundo humorístico e permanecer no inteligente.

NA CIDADE: Restaurant Week

Só vai até o dia 10 de julho, então tem que correr: evento gastronômico mundial que também veio para Porto Alegre. Almoço a R$ 29,90 e jantar a R$ 39,90, com entrada, prato principal e sobremesa inclusos, em restaurantes que, regra geral, fariam sofrer um pouco mais o nosso bolso. O único porém é que os pratos são pré-estabelecidos, então tem que dar um conferes no site do evento para ver qual te agrada. O Jasmin, por exemplo, oferece como prato principal, no jantar, filé com crocante de pinhão, acompanhado de creme de batata aromatizado com pimentas verdes e arroz de jasmim e aniz ou (pode optar) salmão em crosta de gergelim negro, servido com risoto de açafrão e crispy de alho-poró. De sobremesa, sorvete de rosas, servido com damasco flamabado e aniz estrelado. Tem ainda coisas deliciosas no Koh Pee Pee, Press, Calamares, Barba Negra, Sharim, Sashiburi, Sushi do Cléber, Atelier das Massas e por aí vai.

Mais uma semana, hein? Corre lá.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Um post gordo


Café passado de manhã. Ou depois do almoço. Uma balinha butter toffe depois do almoço. Uma tragada em um cigarro depois de um gole de cerveja. Um Red Bull Light antes de ir para a noite. Uma Coca Zero de garrafa estupidamente gelada em uma manhã de ressaca. Chimarrão e bergamota olhando o pôr do sol. Uma cervejinha gelada em um fim de tarde de verão. Ou em uma noite de verão. Ou em uma noite de qualquer estação. Churrasco domingo. Galeto sábado. Fondue em Gramado. Chá de boldo após tudo isso. Sopa de capeleti e vinho no auge do inverno. Queijos e frios também. Água, sempre. Churrasquinho de gato depois de um jogo do Inter. Inter. Pipoca no cinema. Bibs passas no cinema. Cinema. Pizza e filmes em casa. Salada de frutas na Banca 40. Chopp Brahma. Cheetos requeijão em viagens. Biscoito de polvilho em viagens. Viagens! Um farroupilha e um café com leite quando falta café da manhã em casa. Batida de banana após corrida. Arroz e feijão no almoço da vó. Papaterra frita em São Simão. Massa a carbonara do meu pai. Omelete da minha mãe. Bolinho de arroz do Dedé. Qualquer invenção da Mari. Água com gás para matar a sede. Champagne para comemorar. Cachorro da república no fim da noite. Nella Pietra com a família. Quentão e pinhão em junho. Lentilha em dezembro. Crepe na praia. Queijo coalho na praia. Caipirinha na praia. Casquinha de siri após praia. Praia. Praia. Praia. Água de coco e Biscoito Globo no Rio. Koni no Rio. Rio. Rio. Rio. Pimenta. Picanha. Camarão. Twix. Pães. Uvas.
Pois é, se o hedonismo e a gula me impedirem de ir para o céu, nem quero ir mesmo: deve ser bem chato por lá.

domingo, 29 de maio de 2011

Esses quereres...


Nada como Caetanear num domingo cheio de pensamentos...

Onde queres revólver, sou coqueiro
E onde queres dinheiro, sou paixão
Onde queres descanso, sou desejo
E onde sou só desejo, queres não
E onde não queres nada, nada falta
E onde voas bem alto, eu sou o chão
E onde pisas o chão, minha alma salta
E ganha liberdade na amplidão
Onde queres família, sou maluco
E onde queres romântico, burguês
Onde queres Leblon, sou Pernambuco
E onde queres eunuco, garanhão
Onde queres o sim e o não, talvez
E onde vês, eu não vislumbro razão
Onde o queres o lobo, eu sou o irmão
E onde queres cowboy, eu sou chinês

Ah! Bruta flor do querer
Ah! Bruta flor, bruta flor

Onde queres o ato, eu sou o espírito
E onde queres ternura, eu sou tesão
Onde queres o livre, decassílabo
E onde buscas o anjo, sou mulher
Onde queres prazer, sou o que dói
E onde queres tortura, mansidão
Onde queres um lar, revolução
E onde queres bandido, sou herói

Eu queria querer-te amar o amor
Construir-nos dulcíssima prisão
Encontrar a mais justa adequação
Tudo métrica e rima e nunca dor
Mas a vida é real e é de viés
E vê só que cilada o amor me armou
Eu te quero (e não queres) como sou
Não te quero (e não queres) como és

Ah! Bruta flor do querer
Ah! Bruta flor, bruta flor

Onde queres comício, flipper-vídeo
E onde queres romance, rock'n roll
Onde queres a lua, eu sou o sol
E onde a pura natura, o inseticídio
Onde queres mistério, eu sou a luz
E onde queres um canto, o mundo inteiro
Onde queres quaresma, fevereiro
E onde queres coqueiro, eu sou obus

O quereres e o estares sempre a fim
Do que em ti é em mim tão desigual
Faz-me querer-te bem, querer-te mal
Bem a ti, mal ao quereres assim
Infinitivamente impessoal
E eu querendo querer-te sem ter fim
E, querendo-te, aprender o total
Do querer que há, e do que não há em mim



sábado, 14 de maio de 2011

Um pouco de Caio F.

Que eu sou completamente apaixonada por ele não é segredo algum. Ele me emociona, me faz pensar, me toca de um jeito que poucos conseguem. Caio Fernando Abreu, companheiro de noites mil de cabeça fervilhante, porto seguro para acalmar a alma quando a ansiedade bate, usina de poesia das mais raras: a do dia a dia, da identificação. Nada como uma mente inquieta para aquietar mentes alheias.

Nesta minha época corrida e de inspiração e tempo zero para contribuir com o Purfa, nada melhor do que ficar com um belo conto do Caio, para mim, dos melhores. Constante no livro Morangos Mofados, com vocês: Transformações (Uma fábula).

Feito febre, baixava às vezes nele aquela sensação de que nada daria jamais certo, que todos os esforços seriam para sempre inúteis, e coisa nenhuma de alguma forma se modificaria. Mais que sensação, densa certeza viscosa impedindo qualquer movimento em direção à luz. E além da certeza, a premonição de um futuro onde não haveria o menor esboço de uma espécie qualquer não sabia se de esperança, fé, alegria, mas certamente qualquer coisa assim.
Eram dias parados, aqueles. Por mais que se movimentasse em gestos cotidianos - acordar, comer, caminhar, dormir, dentro dele algo permanecia imóvel. Como se seu corpo fosse apenas a moldura do desenho de um rosto apoiado sobre uma das mãos, olhos fixos na distância. Ausentou-se, diriam ao vê-lo, se o vissem. E não seria verdade. Nesses dias, estava presente como nunca, tão pleno e perto que estava dentro do que chamaria - tivesse palavras, mas não as tinha ou não queria tê-las - vaga e precisamente de: A Grande Falta.
Era translúcida e gelada. Tivesse olhos, seriam certamente verdes, com remotas pupilas. À beira da praia certa vez encontrara um caco de garrafa tão burilado pelas ondas, areias e ventos que cintilava ao sol, pequena jóia vadia. Apertou-o e
ntre os dedos, sentindo um frio anestésico que o impedia de perceber as gotas de sangue brotando mornas da palma da mão. Era assim A Grande Falta. Pudessem vê-lo, pudesse ver-se, veriam também o sangue, ele e os outros. Acontece que tornava-se invisível nesses dias. Olhando-se ao espelho, sabia de imediato que estava dentro Dela. No vidro, além dele mesmo, localizava apenas um claro reflexo esverdeado.
Ela estava tão dentro dele quanto ele dentro Dela. Intrincados, a ponto de um tornar-se ao mesmo tempo fundo e superfície do outro. Amenizava-se às vezes no decorrer do dia, nuvens que se dissipam, turvo de água clareando até o cair da noite surpreendê-lo nítido, passado a limpo, passado a ferro. Então sorria, dava telefonemas, cantava ou ia ao cinema. Mas em outras vezes adensava-se feito céu cada vez mais escuro, turvo agitado subindo do fundo, vidro bafejado. Sem dormir, fosforescia entre os lençóis ouvindo os ruídos da madrugada chegarem como abafados por uma grossa camada de algodão. Dissipava-se ou concentrava-se na manhã seguinte e, concentrando-se, não era uma manhã seguinte, mas apenas uma fluida e mansa continuação sem solavancos.
Seu maior medo era o destemor que sentia. Íntegro, sem mágoas nem carências ou expectativas. Inteiro, sem memórias nem fantasias. Mesmo o não-medo sequer sentia, pois não-dar-certo era o natural das coisas serem, imodificáveis, irredutíveis a qualquer tipo de esforço. Fosse íntimo das águas ou dos ares, teria quem sabe parâmetros para compreender esse quieto deslizar de peixe, ave. Criatura da terra, seu temor era quem sabe perder o apoio dos pés. E criatura do fogo, A Grande Falta crepitava em chamas dentro dele.
Sua invisibilidade no entanto não o invisibilizava: encadernava-o meticulosa em um determinado corpo e uma voz particular e uns gestos habituais e alguns trejeitos pessoais que, aparentemente, eram ele mesmo. Por isso não é verdade que não o veriam. Veriam e viam, sim, aquela casca reproduzindo com perfeição o externo dele. Tão perfeito que nem ao menos provocava suspeitas aumentando as pausas entre as palavras, demorando o olhar, ralentando o passo daquele falso corpo.
Atrás da casca, porém, o cristal incandescia. Debaixo da terra, fogo-fátuo soterrado tão profundamente que a pele nem reluzia.
Alguma coisa que jamais teria, e tão consciente estava dessa para sempre ausência que, por paradoxal que pareça, era completo nesse estado de carência plena.
Isso acontecia apenas quando dentro Dela, pois ao desembarcar, em vez de sorrir ou fazer coisas, freqüentemente limitava-se a chorar penoso como se apenas a dor fosse capaz de devolvê-lo ao estágio anterior. A dor desconsolada e inconsolável, em soluços que o sacudiam cada vez mais fortemente, a cada um deles partindo-se a casca, quebrando-se a moldura, rachando-se o vidro, apagando-se o fogo.
Como uma outra espécie de felicidade, esse desembaraçar-se de uma também felicidade. Emerso, chafurdava em emoções: tinha desejos violentos, pequenas gulas, urgências perigosas, enternecimentos melados, ódios virulentos, tesões insaciáveis. Ouvia canções lamurientas, bebia para despertar fantasmas distraídos, relia ou escrevia cartas apaixonadas, transbordantes de rosas e abismos. Exausto, então, afogava-se num sono por vezes sem sonhos, por vezes - quando o ensaio geral das emoções artificialmente provocadas (mas que um dia, em outro plano, aquele da terra onde, supunha, gostava de pisar, aconteceriam realmente) não era suficiente - povoado com répteis frios, a tentar enlaçá-lo com tentáculos pegajosos e verdes olhos de pupilas verticais.
Não saberia dizer com certeza como nem quando aconteceu. Mas um dia - um certo dia, um dia qualquer, um dia banal - deu-se conta que. Não, realmente não saberia dizer ao menos do que dera-se conta. Mas foi assim: olhando-se ao espelho, pela manhã, percebeu o claro reflexo esverdeado. Está de volta, pensou. E no mesmo instante, tão imediatamente seguinte que confundiu-se com o anterior, cantava, novamente ele mesmo. No segundo verso, pequena contração, tinha novamente entre os dedos o caco de vidro luminoso. Mas antes que a mão sangrasse, havia preparado um drinque, embora fosse de manhã, e bebia lento, todo intenso. Antes de engolir o líquido, seu corpo ganhou vértices súbitos, emoldurando o desenho de um rosto apoiado sobre uma das mãos abertas, olhos fixos na distância.
Foi um dia movimentado, aquele. Sua casca partia-se e refazia-se, entardecer sombrio e meio-dia cegante intercalados. Fumou demais, sem terminar nenhum cigarro. Bebeu muitos cafés, deixando restos no fundo das xícaras. Exaltou-se, ausentou-se. No intervalo da ausência, distraía-se em chamá-la também, entre susto e fascínio, de A Grande Indiferença, ou A Grande Ausência, ou A Grande Partida, ou A Grande, ou A, ou. Na tentativa ou esperança, quem saberia, de conseguindo nomeá-la conseguir também controlá-la.
Não conseguiu. Desimportou-se com aquilo. Tomado a intervalos pelo anônimo, atravessou a tarde, varou a noite, entrou madrugada adentro para encontrar a manhã seguinte, e outra tarde, e outra noite ainda, e nova madrugada, e assim por diante. Durante anos. Até as têmporas ficarem grisalhas, até afundarem os sulcos em torno dos lábios. Houvesse uma pausa, teria pedido ajuda, embora não soubesse ao certo a quem nem como. Não houve. Mas porque as coisas são mesmo assim, talvez por certa magia, predestinações, sinais ou simplesmente acaso, quem saberá, ou ainda por ser natural que assim fosse, e menos que natural, inevitável, fatalidade, trágicos encantos - enfim, houve um dia, marco, em que o tocaram de leve no ombro.
Ele olhou para o lado. Ao lado havia Outra Pessoa. A Outra Pessoa olhava-o com cuidadosos olhos castanhos. Os cuidadosos olhos castanhos eram mornos, levemente preocupados, um pouco expectantes. As transformações tinham se tornado tão aceleradas que, no primeiro momento, não soube dizer se a Outra Pessoa via a ele ou a Ela, se se dirigia à moldura, à casca, ao cristal ou ao desenho, ao corpo original, às gotas de sangue. Isso num primeiro momento. Num segundo, teve certeza absoluta que se tinha desinvisibilizado. A Outra Pessoa olhava para uma coisa que não era uma coisa, era ele mesmo. Ele mesmo olhava para uma coisa que não era uma coisa, era Outra Pessoa. O coração dele batia e batia, cheio de sangue. Pousada sobre seu ombro, a mão da Outra Pessoa tinha veias cheias de sangue, latejando suaves.
Alguma coisa explodiu, partida em cacos. A partir de então, tudo ficou ainda mais complicado. E mais real.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Ode às Marias


E veio o BBB11 e foi chato. Sempre me assumi viciada naquela suposta babaquice fútil, mas esse tava ruim de acompanhar, criar expectativas e ficar na torcida de alguém. E quando eu achei que finalmente ia chegar um Big Brother que não servisse de jeito nenhum para acrescentar mais um pouco de filosofia barata para as minhas teorias, veio a final. E nela falou o “poeta” Bial:

“Até que chega uma mulher que esfrega na cara das mulheres tudo que elas detestam ser, ter sido ou vir a ser de novo por alguma circunstância”.

Opa! Bateu.

Mulherada reunida na minha casa e, mesmo sem nenhuma ter acompanhado muito, a torcida era unânime: Maria! O gay da vez era divertidíssimo, o doutor era muso e educado, mas a Maria era... era a gente. Falava merda, se perdia, se embebedava, corria atrás de um cara que cagava e andava para ela. E ela nem aí, ou muitas vezes MUITO aí, jurava que não ia fazer mais nada, mas daqui a pouco lá ia ela e fazia. Umas mais, outras menos, mas convenhamos: todas já foram um pouco Maria um dia.

A questão toda era se o público ia concordar com aquele choque de realidade feminina esfregado na cara. Hipocrisia, já ouviram falar? Fácil julgar, difícil às vezes é se controlar. Ressaca moral, oi? Discussão recorrente entre a mulherada é esse machismo que segue vigente – e que pelo jeito persistirá por muito tempo - dos pré julgamentos em relação as mulheres. A “puta”, a “vagaba”, a “humilhada”. O homem não, sempre vai ser o “pegador”, o “safado” (por incrível que pareça, no bom sentido) e, em últimíssimo caso, o “coitadinho”. E isso não parte só deles não, quantas vezes a gente não se pega destilando exatamente esse veneno em relação a outras mulheres, muitas que a gente mal conhece?

Por isso que, do alto das minhas teorias sociológicas, me parecia que o público não ia aliviar muito para o lado da Maria. Ficou com um, caiu em cima do outro da forma mais vazada possível, resolveu que queria mesmo era o primeiro, deu uma mentidinha básica e rastejou atrás dele até não poder mais. Rolava um papo de um tal vídeo dela na internet um tanto promíscuo, ou que ela já tinha encarnado a Bruna Surfistinha uma vez ou outra e a partir daí as fofocas eram só ladeira abaixo. Até onde isso era verdade eu não investiguei, mas o que me parecia era que, aos olhos do público, o pensamento seria que onde há fumaça, há fogo, e onde há fogo, meus amigos - quanto mais aquele fogo descarado que ela destilava pela casa! - coisa boa não podia dar.

Não que eu não achasse que ela tinha a simpatia do público, pelo contrário: as Marias sempre tem. Geralmente elas são as mais divertidas, as que tem mais história para contar, as melhores companhias. O problema é que na hora do pega-pra-capar, lá vão os reis da hipocrisia escolher as “Adrianas”. Aquelas mesmo, da citação do Bial que morrem de medo de assumir já terem sido Marias uma vez ou outra. Bonitinhas, pseudo-santinhas, mas... chatas. Saqualé? Do tipo que toma álcool duas vezes por ano, uma taça de champagne no natal e outra no réveillon, e para quem os piores inimigos na vida são o carboidrato e a gordura trans. Blagh!

Nunca me esqueci um “conselho” que eu ouvi certa feita: “na hora de escolher com quem se vai casar, escolha alguém com quem goste de conversar. Porque paixão é bom, dinheiro é bom, status e beleza melhor ainda. Mas no fim, lá no final mesmo, a conversa vai ser tudo o que o casal vai ter”. O alto índice de divórcios que se vê por aí deve em muito ser resultado da falta de atenção a este preceito. Porque os homens acabam grudando o estigma de “just for fun” nas Marias da vida e não percebem que, no fim, o “fun” é que devia ser o objetivo. Com cada vez mais gente mala no mundo, achar alguém com quem se consiga realmente rir é um presente.

Pois não é que dessa vez a hipocrisia usual deu lugar para a identificação (que seja para a compaixão!) e a maioria votou para ela ganhar o programa? Bela surpresa. Bom saber que tem gente no mundo querendo ver as Marias se darem bem, simpatizando e jogando a ignorância de lado para reconhecer que no fim de tudo, como disse o Bial, “JOGAR BEM É SE JOGAR”. Ô!

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

The sartorialist

Muito melhor do que qualquer editorial da Vogue, quando se trata de observar modelitos, tendências e combinações, são os sites de street style.
Ver o que as pessoas conseguem trazer dos editoriais para as ruas e das passarelas para a realidade acaba sendo muito mais prazeroso do que ficar interpretando a idéia de um estilista. Talvez porque ultrapassa a condição de simples conceito e se torna algo palpável. Posso ficar horas e horas na frente do computador olhando o monte de sites deste tipo que atolam a minha lista de favoritos e saio coma cabeça borbulhando de idéias.

De todos eles, entretanto, um é top. Não sou eu quem diz, é unanimidade mesmo. Scott Schumann, do site The sartorialist (http://thesartorialist.blogspot.com/) é o cara. Considerado o precursor deste tipo de enfoque, deixando de lado as celebs e os tapetes vermelhos e captando pessoas comuns (mas EXTREMAMENTE estilosas), ele inverteu a roda fashion e acabou se tornando referência para estilistas, revistas especializadas e amantes de moda em geral. Como? Fica mais fácil entender ao ver o vídeo "Intel Visual Life", uma produção da Intel que mostra um pouco da rotina do cara.

O que o filme me passa é que ele não vê moda como algo estático, não tenta observar se a pessoa está usando a última tendência, por exemplo: ele reaje instintivamente às imagens. Isso sim, para mim, é pensar moda: uma simples reação a algo que te provoca. Daí a dificuldade que as pessoas tem de ter estilo e até mesmo "perceber" estilo. Isso dificilmente se conquista, requer uma certa sensibilidade inata. O que se vê é que o "sartorialist", sem intentar, utilizando apenas da sua percepção e talento natos seleciona só o que o toca e com isso acaba fotografando tendências ou transformando as suas fotos em. Inncrível, não? Eu acho.

O início do filme, para mim, resume a filosofia de Schumann:

"You never know what it is, what that thing is that drags you to that person, but you just let it happen. It seems obvious, you know, its almost like going out there and let yourself fall in love a little bit everyday, let yourself be seduced a little bit everyday".


Então tá aí, enjoy:

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Férias

Pobre do Purfa, tão abandonado em 2011.

É que o ano começou corrido. E quente. Tão quente que nem dá vontade de ligar o computador ao chegar em casa. Aliás, nem dá vontade de ir para casa. Também não estou com o mínimo saco de comentar as notícias dos jornais, os desabamentos no Rio, a revolta no Egito, a posse dos deputados. Nããã. Tô fora. Analisar comportamento, então, deus me livre. Ainda mais se for o meu. Decidi parar de me analisar por um tempo. Meus neurônios passaram a entrar em recesso às seis da tarde e só retornam quando eu adentro a porta do trabalho no outro dia de manhã. A idéia é passar o resto do verão ligando o meu computador unicamente para ouvir as músicas que eu adoro, ler coisas fúteis, ficar com o ventilador na cara, olhar estrelas, correr pela cidade e depois mergulhar na piscina. Além do trabalho, está decidido que serão essas as únicas coisas com as quais eu irei me comprometer nesses dias. Então fica a dica: distorcendo um pouco aquele comercial de chinelos, dê férias para o seu cérebro. Eu dei, e junto dou mais um mês de férias para o Purfa.


segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Coisas de ano novo




Que delícia que é virada de ano! Já escrevi por aqui o quanto eu sou apegada a esses festejos dezembrinos e o reveillón é, na minha opinião, a melhor das comemorações. Não tem data que o meu astral fique igual, nem mesmo no meu aniversário.

Adoro programar, rever, pensar, planejar. Adoro a sensação de "posso tudo" que um ano que está começando traz consigo. Dá vontade de começar o que planejamos e nunca fazemos, repensar o que não deu certo e abandonar o que está dando errado. Na minha cabecinha doente de tão otimista, então, parece sempre que tudo vai dar certo no ano que está chegando. Bendito otimismo!

Então, para comemorar o ano novo que chega e o meu astral lá em cima, um pouquinho de Drumond. E depois um pouquinho de Marcelo Camelo, porque poesia na nossa vida nunca é demais!

Feliz 2011!!!


"Quem teve a idéia de cortar o tempo em fatias, a
que se deu o nome de ano,
foi um indivíduo genial.
Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar no
limite da exaustão.
Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e
entregar os pontos.
Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra
vez, com outro
número e outra vontade de acreditar que daqui pra
diante vai ser diferente"

(Carlos Drummond de Andrade)


Pois é, não deu
Deixa assim como está sereno
Pois é de Deus
Tudo aquilo que não se pode ver
E ao amanhã a gente não diz
E ao coração que teima em bater
avisa que é de se entregar o viver
(Marcelo Camelo)

...pensamentos, teorias e devaneios...