quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Insustentável




Eis que eu estava lendo "A insustentável leveza do ser" e me deparo com essa passagem:

"A jovem falava da tempestade, o rosto banhado de um sorriso sonhador, e ele a olhava pasmo e quase envergonhado: ela vivera uma coisa bonita e ele não a vivera com ela. A reção dicotômica da memória dos dois à tempestade exprimia toda a diferença que pode haver entre o amor e o não-amor.
Por não-amor, não quero dizer que Tomas tenha se comportado com cinismo em relação a essa moça, que tenha visto nela, como se diz, somente um objeto sexual: ao contrário, gostava dela como amiga, apreciava seu caráter e inteligência, estava sempre pronto a ajudá-la quando precisasse. Não era ele que se comportava mal em relação a ela; era a sua memória que, independente da vontade, excluíra-a da esfera do amor.
Parece que existe no cerébro uma zona específica, que poderíamos chamar de memória poética e que registra o que nos encantou, o que nos comoveu, o que dá beleza à nossa vida. (...) Não havia lugar para ela na memória poética de Tomas. Só havia lugar para ela no tapete
".

PORRA, MILAN KUNDERA!

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