sábado, 24 de outubro de 2009

FIM

"Isso é só o fim. O importante a gente já viveu" – disse a namorada, enquanto os dois caminhavam e conversavam como forma de despedida, já que ela estava indo embora e o namoro ia terminar.

Essa frase do filme “Apenas o fim” me pegou. Não é uma bela maneira de se encarar um fim, seja ele qual for? Ninguém gosta e lida bem com términos, principalmente se alheios a nossa vontade. Um fim de namoro, de casamento, de uma amizade, uma demissão, a morte. Difícil lidar com a sensação de vazio que essas situações trazem. Cai o chão, a insegurança reina, fim do mundo? O desconforto que vem com a perda é talvez um dos maiores sofrimentos possíveis, sair da zona de segurança e rumar para o incerto. Perder. Acabar. Fim. Merda, hein?

Merda, definitivamente. Mas será que não devíamos pensar que só perde quem um dia teve? E principalmente que, se a dor da perda é diretamente proporcional a intensidade do que foi vivido, a tristeza trazida pelo fim não seria um certificado de que antes houve felicidade? Uma espécie de ISO9000 da plenitude?

Aprender a lidar com o fim talvez seja um dos maiores desafios da humanidade desde as cavernas. Todo o apelo das religiões, por exemplo, reside aí. Grande parte dos estudos da psicologia e da filosofia partem daí – ou pelo menos deveriam. Eu não acredito em fórmula da felicidade, mas não tenho dúvidas de que tentar aceitar (entender, na realidade) a perda é um bom começo. Será essa uma parte do desapego defendido pelos budistas?

Não sei se eu conseguiria, perante o fim de algo que eu realmente gostasse, pensar simplesmente: é “apenas o fim”, mas o fim não é nada diante de tudo que foi vivido. Provavelmente não, o emocional descontrola nessa hora. O que eu sei é que pensando racionalmente me parece ser esse o caminho. Acho que, se como dizem, o tempo é o melhor remédio, a perspectiva que ele traz deve ser seu princípio ativo e a noção de que o “ter vivido” transcende e muito ao “ter acabado” deve ser a cura.

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