sexta-feira, 5 de setembro de 2008

enfant terrible

Existe um fascínio nas pessoas que só fazem da vida aquilo o que gostam. Quando, além de viverem plenas, essas criaturas ainda produzem um trabalho de primeira, a admiração fica quase antropofágica! Sobre mim, pelo menos, o efeito é exatamente esse. Tô falando do Nelson Motta. Não, não tenho vontade de deitar o homem numa tábua, fatiar e saltear na manteiga pra depois comer com fritas, não é isso. Mas cada crônica, cada livro, e até aqueles programetes radiofônicos dele na Itapema me dão ganas de passar um tempo andando com o cara 24h por dia, sabe? Assistir in loco a quando ele recebe uma demo de uma banda desconhecida e acha o maior barato, presenciar encontros casuais dele com gente sagrada (tipo o Chico) e ouvir aquele papo de amigos de anos, de mesa de bar, espiar por cima do ombro enquanto ele lê o jornal e destila comentários sarcásticos, divertidos, e nem por isso menos lúcidos e oportunos...

Minha fixação pelo Rio da Bossa Nova se deve muito à leitura de Noites Tropicais: com 12 anos de idade eu estava convicta de que tinha nascido no lugar e na época errada! Quem me demoveu dessa constatação um tanto desesperadora foi o próprio Nelsinho (meu faixa!): ao longo dos anos, lendo tudo o que me caía na mão envolvendo o nome dele, percebi que o cara é mestre na arte do saber viver.

Quando os maiores artistas da MPB se reuniam em apartamentos da zona sul carioca pra jams vespertinas, ele tava lá. Aquele encanto, aquela ebulição, ele não só viveu como narrou, deliciosamente, em antologias, biografias - geniais -, romances, entrevistas,... Em Nova York, bebeu o melhor da cultura americana, olhou pro país e pro povo com a veneração que ora mereciam e com o deboche a que amiúde fazem jus... Enfim, a biografia da pessoa não dá um livro, dá uma biblioteca, com prateleiras recheadas de música, malandragem, poesia... Mas o que eu queria falar (mania de ficar me desviando!) era da admirável capacidade que ele tem de seguir ao pé da letra aqueles velhos lemas no estilo "viva intensamente o presente", "nunca deixe de aprender", e outros clichês afins. Amigo do peito da Elis, sim. Íntimo de jazz e blues. E fã de CSS, por quê não? Vasto histórico de noitadas regadas a muito álcool e pó, é verdade, e ele não nega. Assim como não abre mão das caminhadas à beira-mar, da yoga, da natação. Andou casando com a mulher mais chique (não gosto dessa palavra, mas pra Conztanza Pascolato, cabe) e elegante desse país... sem nunca deixar de falar do submundo - o carioca, em especial - como se fosse o protótipo do malandro, sujo e sem-vergonha.
Nelson Motta não se limita, não fica parado, não teme paradoxos e contradições, não se prende aos mesmos gostos, lugares e itinierários por medo de se descaracterizar. E assim, só confirma o que é: um cara com um repertório invejável de assuntos, causos e opiniões, mas que nem por isso se torna um pedante, cego e surdo ao novo. Pelo contrário, é de uma humildade e de uma abertura ímpares. Muito cool. Um carioca, enfim. (Nasceu em São Paulo, mas suspeito que o Rio seja culpado por parcela importante do ser que se formou ali.)
Vale o clique: www.sintoniafina.com.br.

Um comentário:

Anônimo disse...

Nossa, eu gostava desse cara, mas depois dessa descriçao fiquei um pouco mais fã.

...pensamentos, teorias e devaneios...