segunda-feira, 1 de setembro de 2008

assim é, se lhe parece

Por alguma razão ignorada, no sábado à noite, em um bar barulhento, conheci um psicólogo e engatei um típico papo-cabeça, com ele e com a minha amiga Rafaela. Pensando que na manhã seguinte eu pouco me lembraria do que foi dito, fui surpreendida pela quantidade de vezes em que o assunto voltou à minha cabeça de lá pra cá, e agora ando até meio incomodada com a pulga que se instalou atrás da minha orelha.
O rapaz trabalha com uma linha chamada psicoterapia cognitivo-comportamental. Nunca tinha ouvido falar, leiga que sou, então fui ao google, depois de já ter ouvido a explicação do meu interlocutor. Basicamente, a PCC (não confundir!) parte da premissa de que os comportamentos indesejados são fruto da maneira como os indivíduos interpretam os fatos e eventos que vivenciam combinada com a forma como a pessoa se vê. Assim, esses comportamentos podem mudar rapidamente, se o cidadão se re-condicionar, com a ajuda de um terapeuta. Meu conhecimento é raso, e meu espeço é curto, mas foi mais ou menos isso que eu entendi. Enfim, meu novo amigo Paulo (o psicoterapeuta em questão), em termos mais sutis, disse que a PCC vem sendo comprovadamente eficaz, e que a psicanálise anda ultrapassada, é história pra boi dormir, Freud viajou na maionese, etc...
Me caiu os butiá do bolso! Eu, que bato ponto três vezes por semana no divã! Que atribuo à psicanálise a superação dos meus transtornos mais cabeludos! Segundo o Paulo, os psicanalistas já começam a se tornar suspeitos justamente aí: indaga ele, "por quê submeter uma pessoa a um tratamento longo, caro, criando como que uma relação de dependência analista/paciente?". Um tratamento sob as diretrizes da PCC seria muito mais rápido, eficaz e barato! Será?
Ele falou dos atrativos da psicanálise, de todos os paralelos estabelecidos com a mitologia, com as artes e com a filosofia... disse que justamente em função disso é que a psicanálise é tão forte em lugares como Paris e Buenos Aires. Mas que por mais interessante que seja enquanto tema de livros e debates, é ba-le-la. Não serve pra nada. Cheguei a ler em um site da PCC que para os casos em que a psicanálise foi considerada eficaz, não se pode afirmar se o sucesso decorreu do tratamento ou se o problema desapareceu em função da simples passagem do tempo! Ooohh, meus sais!
Não engoli muito, mas não pude deixar de pensar. Acho pouco provável que em poucas sessões com outro profissional eu pudesse ter chegado aonde cheguei até o momento com a minha analista. Segundo o Paulo, os temas que com ela eu custei a conseguir falar, na PCC teriam vindo à tona muito mais rápido. Mas é aí que eu pergunto: sem uma escarafunchação (é essa a palavra, se não existe eu acabei de inventar) constante, sem dar muita bola pro passado, pras experiências da infância, como é possível mapear a maneira como uma pessoa enxerga seu mundo e a si própria? Pra mim, tá tudo ligado! Essa coisa do aqui e do agora, pra mim, não funciona, e isso vai de McDonald´s a tratamento psicológico.
Porém, eu me questiono. Comecei a seguir essa linha de pensamento segundo a qual a PCC me pareceu muito superficial, muito fast-food, muito manual de auto-ajuda. E e aí que entra a pulga: será que realmente é assim? Ou será que as próprias críticas que eu já faço ao método são um espelho da aceitação da psicanálise entre pacientes e psicanalistas? Explico: como eu já mencionei, a psicanálise faz sucesso em pólos de cultura, entre pessoas intelectualizadas, que se recusam a enxergar o tratamento psicológico como algo que pode ser simples. A rejeição à PCC sria, então, um sinal de arrogância, e de amor a todas as interpretações estabelecidas por Freud e por tantos que vieram depois. Seria eu, então, uma resistente, que prefere rechear seu passado com figuras mitológicas, relacionando fatos e experiências segundo uma lógica toda particular, em vez de buscar um tratamento menos sofisticado, ainda que mais eficaz?
Acho que não vou parar de divagar tão cedo... Meu novo amigo ficou de me emprestar um livro a respeito do assunto, não vejo a hora de ler! Mas por enquanto, sigo (resistente? arrogante?) paciente - sim, porque na PCC é cliente. Não gostei disso também.

Um comentário:

Pedro Terra disse...

Oi Mari, fico com uma pulga atas da orelha com esse assunto. Mas acho que o PCC fica mais forte nos dias da modernidade pela chamada `sociedade liquida`em que vivemos, onde os sentimentos são trocados facilmente, sem constituir uma relação longa com nada. É bem perturbador mesmo!

...pensamentos, teorias e devaneios...