segunda-feira, 21 de junho de 2010

Quando o sexo decepciona... e a cidade também.

Então. Após um período longe, resolvi reencontrá-las. Eu já estava com saudade, é impressionante como a gente se apega e morre de curiosidade de como andam as vidas daqueles com quem convivemos durante, o quê, 6 temporadas? Pois é, lá fui eu: Carrie, Miranda, Charlotte e Samantha já estavam me fazendo falta e eu estava louca para conferir Sex and the city 2. Depois do primeiro filme, que muito me agradou, mais dilemas femininos e muita moda para analisar me esperavam, que alegria! Pois é, mal sabia eu que só o que me esperava era essa última, a alegria. Ou uma tentativa de.

Não gostei. Mesmo. Para mim o filme "traiu" toda a proposta do seriado e do primeiro filme e se tornou uma comédia patética, pastelão e previsível (do ponto de vista de Hollywood, não do seriado). Não que eu não tenha dado risadas, nem que eu não tenha sáido feliz do cinema, claro que sim. Eu sou realmente apegada a certos seriados e só o fato de poder conferir novas histórias envolvendo seus personagens já me alegra. Mas não pude deixar de notar o desconforto que me perseguiu durante toda a exibição.

O seriado. Por mais que falasse muito de marcas, roupas e, claro, sapatos (!!!) ele sabia juntar a isso questões realmente existenciais do ponto de vista feminino, questões com as quais toda mulher se identifica. O que as roupas tinham de fantasia e sonho, o resto tinha de realidade, sem um pinguinho de hipocrisia: para começar a protagonista fumava, no auge do movimento anti-fumo e do politicamente correto. Responda rápido: qual mocinha atual tu viu fumando em um filme, seriado ou novela? O cigarro hoje é delegado, em filmes e novelas, no máááximo para o traficante, o bandido e olhe lá. No seriado não, a Carrie chegou a sair correndo de um encontro para fumar o seu cigarrinho. Não que seja certo fumar, mas as pessoas fazem. Fora isso, ela ainda traía o namorado perfeito que amava ela com o caso sem futuro que fazia ela de idiota. Também não conseguiu aceitar o pedido de casamento do tal namorado perfeito, simplesmente porque não era para ela. Não é racional, não é explicável: é real. Do mesmo modo funcionava com as outras personagens, às vezes um pouco mais caricaturizadas, mas ainda assim representantes da questão feminina em geral: aquela que a prioridade da vida é ser uma profissional realizada, pensa duas vezes quando descobre que está grávida e sofre com o dilema de toda mulher moderna: distribuir o tempo entre trabalho e filhos. A romântica, que sonha com o casamento e faz disso a sua prioridade e que choca as amigas ao abandonar o trabalho de sucesso para "cuidar da casa" e, ainda, aquela em que o sexo é prioridade, a caça é o objetivo. Na verdade toda mulher é uma mistura dessas quatro. Tem episódios em que elas fumam maconha, em que elas dizem ter feito aborto, em que elas admitem não usar camisinha sempre, em que a amiga fica triste ao saber que a outra vai casar e por aí vai. Não há mitificação, é a vida ali, decorada com puro luxo - esse sim distante da maioria dos mortais!

O primeiro filme seguiu a coerência do seriado: mostrou a dificuldade da workaholic em manter o casamento com o trabalho, os problemas de uma pessoa que sempre se cuidou e se colocou em primeiro lugar em manter um relacionamento em que cuida mais do parceiro do que de si, as dificuldades daquela que sempre gostou de muito sexo com muitos homens de se adaptar a sociedade, abandonar seus instintos e aderir a monogamia e até a preocupação daquela em que tudo está fluindo muito bem na vida de que vá acontecer algo errado a qualquer momento. É um roteiro bem amarrado, que emociona, que conta algo.

Já o segundo filme se tornou justamente aquilo que todos aqueles que não assitiam o seriado imputavam a ele: ser pura futilidade. Não tem roteiro, não tem história, parece que foi feito para ser um grande desfile de moda (moda esta que inclusive também já está passando do ponto. Calma, Patricia Fields!) e das paisagens do Oriente Médio. Oriente este altamente estigmatizado no filme por sinal. Os personagens perderam todo o perfil original: a Miranda deixou de trabalhar para cuidar da família, a Samantha deixou de ser confiante no seu corpo e no seu "apetite sexual" para se tornar dependente de hormônios e até o Aidan, que sempre guardou um certo ressentimento pela Carrie e era todo politicamente correto, estava todo saidinho, correndo atrás dela mesmo estando casado e com tês filhos. A única personagem que salva o filme é a Charlotte e seu dilema de mãe de dois filhos pequenos, que por amá-los tanto tem vergonha de admitir que tem momentos que acha que vai enlouquecer, que precisa ficar longe deles de vez em quando. Sensacional a cena em que admite que, ao ser alertada de que o marido podia ter atração pela babá bonitona, o seu primeiro pensamento foi: "oh God, I cant lose the nanny!". Bela sacada, mas praticamente a única.

No fim, ficou parecendo para mim que o filme se vendeu, se é que é possível que um seriado símbolo do capitalismo atual ainda tenha algo a vender. De um seriado que falava das questões femininas com apenas uma pitada de humor, se tornou praticamente uma pornochanchada brasileira dos anos 70, uma comédia sem reflexão. Agora o próximo filme de seriado que eu aguardo ansiosamente é o do Friends, os personagens por quem eu tenho mais apego, e espero mesmo que ele não me decepcione assim! Duas punhaladas vindas do meu dvd é demais para mim!

Obs: vi o filme no sábado e estava elaborando o que eu ia escrever sobre ele por aqui quando me deparo com essa crítica na ZH de domingo, de uma jornalista do The Guardian, falando EXATAMENTE o que eu achava, só que muito mais bem escrito. Se tiver curiosidade, dá um conferes: http://zerohora.clicrbs.com.br/zerohora/jsp/default2.jsp?uf=1&local=1&source=a2941009.xml&template=3898.dwt&edition=14918§ion=1026

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