quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

le scaphandre et le papillon

Não costumo escrever sobre cinema. Pelo menos não criticamente, me falta uma capacidade analítica mais apurada, e pelo menos neste blog, os demais integrantes fazem isso muito bem.
Por isso que só falo de filmes quando saio do cinema - ou levanto do sofá, como há pouco - com um sentimento que pede pra ser colocado pra fora com urgência, sob pena de se esvair.
O Escafandro e a Borboleta começou me causando um déja vu. E pela natureza da memória despertada, trouxe junto um assombro: um olhar que demora a distinguir formas, cores, vozes. A constatação de que é inútil tentar se comunicar, a voz não sai, as palavras não se articulam. O diagnóstico. Virar objeto de estudo de acadêmicos de medicina. A súbita complexidade de tarefas tão corriqueiras quanto escrever um bilhete. Os olhares compadecidos.
Jean-Do ficou apenas com o olho esquerdo. O suficiente pra escrever um livro, pra fazer uma mulher chorar, pra fazer escárnio. Correção: o olho esquerdo, a imaginação e a memória. O suficiente pra descer uma montanha esquiando, pra beijar a mulher amada na beira do mar, pra fazer a barba do velho pai. Não voltou a ser editor da Elle, bon vivant, paizão, e assim não precisou repensar o que tinha sido até ali e como seria dali pra frente. Maldisse o médico, teve tesão pela fonoaudióloga, riu com os entregadores que acharam a coisa mais engraçada do mundo um paciente incapaz de falar recebendo um telefone.
Não sei se em algum momento eu me comovi pura e simplesmente pela história contada ou se me identifiquei o tempo todo, mesmo porque acredito que ambas sensações se complementam.
Acho que o que eu quero dizer é que nessa época de balanço, depois de um ano movimentado, com vários tipos de medo batendo, tudo o que eu precisava era ver em outro o que se passou comigo. Porque eu costumo minimizar, fazer graça, nunca penso em como foi foda, e daí pra eventos menores me deixarem em pânico não precisa muito.
É isso, ando angustiada, e tava precisando me olhar desde outra perspectiva.
E o filme é lindo!

Um dia já pode fazer um bem danado: andar com a minha irmã pela Redenção em clima de cumplicidade, ver meu tio amado virar um pai babão, falar muito na análise, criar uma receita, assistir a um bom filme. Mas ainda acho que tudo ficou melhor porque hoje a Olívia veio ao mundo!

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