domingo, 15 de abril de 2007

mesmo bat dia, mesmo bat local

Já estou desenvolvendo o hábito de escrever alguma coisinha aqui todo domingo de noite. Mas meus co-blogueiros não andam se manifestando, aliás, o Pato ainda nem deu o ar da graça! Fica a intimação.
Instituí que ontem foi meu aniversário de um ano. 365 dias atrás, eu estava em uma maca de UTI, semi-paralisada e trajando fraldas. Seguiu-se a isso um ano em que a vulnerabilidade foi diminuindo gradualmente, a insegurança diante de um mundo ao qual eu parecia ter acabado de chegar foi dando lugar à tranqüilidade (ainda que às vezes eu examine a vida com olhos curiosos e assustados), e agora parece que todo o resto foi conseqüência.
Cansei de ficar ruminando essa história. Passado um ano, muita coisa já mudou: esse assunto já pode sair de pauta - e já vai tarde!
Bisbilhotava os sites de notícias atrás de um assunto mais instigante pra tratar aqui, mas entre corpos executados encontrados em Bagdá e bebês esquecidos no carro dos pais, fiquei com esta manchete: "Plantação de flores colore os arredores da cidade de Lisse, na Holanda".
Não é alienação, pelo contrário: de tanto ler notícias lúgubres, essa notinha, com a foto que a acompanha, como que me lembrou que há espaço para as coisas belas no mundo.
Amanhã, enquanto nós estivermos circulando entre pessoas apressadas, que não se olham, entre montanhas de concreto, buzinas e telefones que tocam sem parar, talvez nem lembremos que uma cidadezinha européia está coberta de flores. Que nessa cidadezinha muitas pessoas tiram seu sustento do cultivo de tulipas. Duvido muito que essas pessoas vivam com algum tipo de luxo. Imagino que sejam aquelas famílias que acordam com o sol, tomam um café da manhã só com o que tiram do próprio quintal, trabalhem no campo e no fim do dia joguem conversa fora perto da lareira. Um escutando o que o outro tem a dizer, sem precisar levantar a voz, debaixo de um céu no qual se vêem todas as estrelas, porque não há poluição ou iluminação excessiva que as esconda.
Eu seria hipócrita se dissesse que almejo uma vida assim. Passo o dia inteiro em um escritório de advocacia, estudo para ser boa na profissão que eu escolhi e tenho as minhas ambições, sim. Mas também tenho para mim que no nosso mundo as pessoas não estão atrás de um equilíbrio. Não param pra conversar com um rosto conhecido que passa (e se for desconhecido, nem ao menos dão bom dia!), não pegam o caminho da Beira-Rio pra ver o pôr-do-sol, não prestam atenção na letra de uma música que toca no rádio. Não dizem "eu te amo" pra alguém (marido, namorado, pai, mãe, amigo), não se tocam, não se olham.
Alguns valores desses povos que levam a vida com mais vagar deveriam ser mais valorizados por nós, os habitantes das selvas de concreto. Seríamos todos mais felizes, mesmo sabendo que Porto Alegre dificilmente vai ser cercada por flores de todos os lados!
Nesse caso, plantemos as nossas flores. Nas ruas, nos elevadores, nos escritórios, nas redações, nas faculdades,... Uma semana florida pra todos que tiverem agüentado até aqui!
P.S.: EQUIPE: vejo flores em vocês!

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