segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Carta de ator anônimo

Não admito quem não gosta de Godard, Fellini ou Bergman. Só um ignorante não conhece um texto do Beckett, Tchékhov ou Ibsen. Leio muito esses autores porque isso é cultura. Eu tenho a cabeça muito aberta, afinal eu estudo teatro que é uma arte que abre muito a cabeça da gente, não é. Vejo o mundo de uma outra forma. Nada mais me choca.

Sofri muito nos últimos anos. Fiquei muito tempo parado, sem fazer teatro. Ficava triste e brabo ao mesmo tempo. Ninguém me chamava. Comecei a ficar desesperado. Sofri muito nesse período. Via outras pessoas com projetos e trabalhos legais e eu não fazendo nada. Achava que eu era um péssimo ator. Que as pessoas me acham um péssimo ator. Até que voltei a ativa.

Muito bom estar de volta no palco. Em contato com as pessoas. Só ensaiar todos os dias é que é sacrificante. E quando pra juntar o elenco todo pra passar um corridão temos que ensaiar final de semana? Um inferno. Um saco não poder almoçar com os amigos de teatro em locais de teatro, falar de teatro e de pessoas de teatro. Lembrar dos momentos do passado teatral e rir das mudanças que tiveram no teatro. O pior é ainda ter que ensaiar no frio. Deus me livre! Se bem que no calor também é sacrificante. Pode fazer mal pra voz.

Não. O pior é quando o diretor ainda pede pra passar e repassar a cena umas dez vezes. Não sei fazer. Não sei fazer assim como ele quer, porra. As vezes ele diz que ta bom e aí no ensaio seguinte já quer coisa diferente. Assim não dá. Fico triste e brabo ao mesmo tempo. Começo e ficar desesperado. Sofro muito nesse período. Acho que sou um péssimo ator. Que as pessoas me acham um péssimo ator.

Não, sou muito feliz. Acho maravilhosa a carreira de ator. Acharia lindo se eu morresse no palco. É o que eu quero.

Um comentário:

mari disse...

Se a gente não tivesse conversado sobre isso ontem, ao ler esse post eu confirmaria que tu não bate bem. Mas sabendo do espírito, adorei!

...pensamentos, teorias e devaneios...