sábado, 1 de agosto de 2009

O jornalista papagaio

O jornalismo é uma profissão bastante abrangente. Os profissionais saem do curso preparados para trabalhar em diversas áreas, bastando apenas escolher a que lhes dá mais prazer. Seja fotografia, radio, texto impresso ou telejornal. Dentro disto, podem fazer inúmeras editorias e escolher um assunto que lhes agrade e sobre o qual entendam: cultura, esporte, previsão do tempo, política, economia, social. Enfim, são as mais variadas formas de se trabalhar com a informação e com o prazer. Mas a questão é justamente sobre isso. Fiquei o dia inteiro pensando no grau de imparcialidade que esses profissionais têm quanto a, de uma maneira ou de outra, expor a sua opinião numa matéria que teoricamente deveria ser apenas informativa. Afinal, existe ou não jornalismo 100% não opinativo?
A primeira lembrança que eu tive foi de três diferentes traduções que li da peça HAMLET de William Shakespeare. A primeira do Millôr Fernandes, depois da Bárbara Eleodora e por último de Lawrence Flores Pereira. Cada uma delas, embora tenham sido traduzidas do mesmo texto, passam sensações diferentes por causa das escolhas das palavras e por causa das cenas mais enfatizadas e valorizadas pelos tradutores que fazem escolhas de palavras, termos e rimas. Cada um deles interpreta esse texto de uma maneira diferente. E ao passar essa interpretação adiante, estão opinando. É assim que vejo todas as outras funções do jornalista. Como as crônicas, os editoriais e os artigos que são espaços abertos para a opinião clara de algum entendedor sobre determinado assunto, o jornalismo das matérias dos fatos do dia, das entrevistas, das fotografias, também é opinativo. Pois não há nenhum jornalista papagaio. Seria o jornalista ideal aquele que não interpreta o acontecido, mas sim, o repete exatamente como aconteceu? Como nas traduções, os criadores das matérias também fazem as suas escolhas de palavras, termos, rimas, figuras de linguagem, entonações, expressões faciais ou angulo de visão que revelam muito mais do que só o conteúdo abordado. A própria escolha das fontes entrevistadas, as perguntas feitas. São demais os fatores que impossibilitam a não opinião de um ser humano sobre a informação transmitida.
É importante que os receptores das mensagens saibam o que estão lendo. Saber do fato puro sem interpretações, pelo menos, quando a informação é vendida como tal ou saber de que lado está o jornalista. Depois de me deparar com este assunto por um dia inteiro, ouso dizer que, embora talvez devesse, o jornalista papagaio não existe. É como uma idéia muito boa, mas que, mesmo sem querer, é impossível que aconteça. O nosso papagaio é, portanto, uma figura utópica desta proposta de jornalismo.
É por isso que, para a importantíssima função de jornalista, é necessário, sim, passar quatro anos estudando prática e ética e adquirir com isso um diploma que o da direito a informar, seja como for.

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