domingo, 17 de maio de 2009

boas vindas

...e o frio chegou! Se anunciou com um temporal, me batizou com o primeiro banho de chuva, só pra eu chegar em casa e sentir a alegria que dá tomar um banho quente e calçar pantufas com roupão e calça de plush! Passada a chuva, Porto Alegre amanheceu naquela que é a sua melhor moldura: o céu azul limpíssimo e folhas avermelhadas começando a escassear das árvores. Descendo a Plínio na minha bicicleta, o ar gelado entra pelo meu nariz e pela minha garganta, e depois de ver o Parcão sob essa luz incrível do outono, não vejo porque parar de pedalar. Passo a Redenção, onde o povo lagarteia sem passar calor, e a visão do lago dos pedalinhos chega a me comover, juro! Pela Cidade Baixa, o povo caminha sem pressa de encontrar um ar condicionado. Seguindo pela República, Borges, e em vez de rumar direto pro Guaíba, vou cumprimentar a minha rua preferida... passo pelo Caminho dos Antiquários, subo uma ladeira quase reta, e quando recobro o fôlego, tô na Duque. Vazia na manhã de sábado, preguiçosa, só as janelas abertas, pro sol entrar enquanto ninguém sai debaixo das cobertas. Vou deslizando, viajando nas fachadas e escutando Nina Simone, até o rio surgir na minha frente. E na orla uma rústica vai acabando, os corredores se incentivando, os copos d´água pelo asfalto. Eu sigo. Marinha, Beira-Rio, Iberê, Diário de Notícias, Tristeza... da entrada do Sétimo Céu volto a encontrar o Guaíba azul, esplendoroso, e me jogo pela Coronel Marcos, louca pra chegar na praia que eu só lembro que existe quando venho parar aqui perto. Não demora e tô na nossa Ipanema. Sem Posto 9, nem biscoito Globo, mas com um vai-e-vem de porto alegrenses encasacados, chimarrão em punho e um charme todo próprio. O passeio já dura mais de uma hora, mas eu sigo me impressionando com cada pedacinho da minha cidade sob a luz do outono. Parece que nessa época Porto Alegre se reapresenta a todos nós, como que dizendo: - Olha, tu vai me desculpar, mas eu passei uma época terrível, andei intratável, eu sei... são os famosos calorões, já sabe, né? Mas agora voltei à minha essência. Entra - melhor, sai - e fica à vontade!
Um fim de semana de vinho tinto, preguiça, cobertor e aconchego. De mesa cheia na casa da vó, de vô inspirado no fogão, de rock das antigas, de caminhar papeando com a mana, de encontrar os amigos e encerrar o domingo rindo, conversando e comendo bem. Época de me reapaixonar pela cidade. E de constatar, mais uma vez, que a vida é deliciosamente cíclica!
Próximos capítulos: lareira; quentão; pinhão; carne de panela; canga e livro na grama; chimarrão e bergamota; botas; meias calças; lenços e chapéus; filmes; pé na estrada; calor humano... e que tudo o mais vá pro inferno!

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