terça-feira, 30 de junho de 2009

comida

Passados alguns anos de que eu comecei a me tratar - ou me analisar, como preferir -, reparo que adquiri a mania de fazer associações. Pra mim é muito difícil acreditar no aleatório, nas atitudes tomadas "sem querer", "por nenhuma razão" ou "sem qualquer intuito específico". Tirei isso das descobertas que fui fazendo nos últimos anos quanto aos reais motivos que me levaram a agir de determinada maneira, ou me sentir de modo peculiar. Não, isso não me curou das atitudes irrefletidas, não impediu que eu continuasse enfiando os pés pelas mãos, nem mesmo que eu me desviasse do equilíbrio diversas vezes, conscientemente, como uma criança que tira dinheiro da carteira do pai: sabedora da transgressão - e da pena -, mas não recuando diante disso. Muito pelo contrário, por sinal. A diferença é que eu não saboto o bolso de mamãe, e sim a mim própria. E ainda que não represente a solução, ajuda muito identificar as razões.
Se eu resolvesse colocar em palavras, aqui, toda a manta que eu teci com os acontecimentos dos últimos tempos, não haveria espaço, tampouco paciência de quem quer que lesse. Mas tem um paralelo que eu adoro traçar, e desse eu não pretendo me furtar: vida e... comida, claro!
No ano que passou eu engordei. Pudera: deixei de ser vegetariana, comecei a faculdade de gastronomia e alternei períodos de ansiedade e solidão (duas faculdades+trabalho em restaurante=pânico constante de não dar conta e vida social respirando com aparelhos). A resolução de viver intensamente cada um dos meus dias muitas vezes redundou em comer o que desse vontade e/ou beber até cair. Não tava enxergando muita possibilidade de melhora, fiquei muito tempo entre a cruz e a espada, pensando que era muito legal ser advogada-cozinheira-atleta-boêmia, mas com uma vozinha que me dizia lá no fundo: isso não vai dar certo... Essa minha idéia de versatilidade a toda prova entrava em choque com o valor supremo que eu sempre dei à coerência, e na minha alimentação isso se traduzia em chutar o balde no fim de semana sob a promessa de compensar na segunda-feira - só que segunda-feira era dia de muitas receitas na faculdade... Enfim, entrei em parafuso e passei longos meses carrancuda, mal humorada, por conta de não me reconhecer direito, de não chegar a uma conclusão nas discussões constantemente travadas dentro de mim. Brigando muito, principalmente comigo mesma.
Esse ano, passado o meu delay habitual, fichas e mais fichas começaram a cair: meu amor; minhas amigas; família; formatura... parece que todos os botõezinhos aqui dentro começaram a piscar. Atordoante, perturbador no início, mas depois de traçado o mapa a situação começa a ficar controlada. E eu sinto que tudo se encaminha pro seu devido lugar (pelo menos na minha cabeça).
Parece que a Mariana de verdade tá voltando, se apropriando de todas as experiências vividas nesse ano que passou e sabendo o que fazer com elas. Não preciso abrir mão de curtir cada momento, não preciso correr por 3 horas pra compensar episódios compulsivos, não preciso de episódios compulsivos. Posso experimentar só um pedaço, beber só uma taça, gastar só um pouquinho. Não preciso mais tomar litros de café ao longo do dia, não como mais como se fosse a última refeição antes de um inverno rigoroso, os tragos andam bem mais esparsos, e fazer dieta já tem parecido um desafio empolgante, antes de uma missão impossível. Sério, chega uma hora em que a privação começa a ser prazerosa, juro! Aceitar que carne não me faz muito bem não implica partir pro vegetarianismo e riscar boizinhos, avestruzes, patos e cia. para todo o sempre do meu repertório, mas restringir o consumo a 1 vez por semana, por que não?
Nunca diria que parei de dar bola pra comida, ou que larguei de vez a bebida, muito menos que encontrei Jesus ou coisa do tipo... mas a sensação de botar um pouco de ordem no caos e mandar cada sensação pro seu devido lugar ajuda muito na hora de perceber que comida não serve pra tapar buracos nem amenizar neuroses. Reconhecer o que nos faz bem e o que não faz, saber onde maneirar e quando usufruir, isso é estar no comando, ao invés de ser comandada pela comida. É alimento, e é prazer também, e deve seguir assim, sem virar culpa - ou indigestão.

Um comentário:

Luiza disse...

Maior identificação, impossível!

Admte que tu fez para mim esse texto, honey? hehe.

Mara, como sempre.

...pensamentos, teorias e devaneios...